|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON MOTTA
A direita lulista
RIO DE JANEIRO - "Ideologia, eu
quero uma pra viver", pedia Cazuza
há 15 anos, em vão. Hoje certamente dispensaria qualquer uma, cortaria esse papo furado e faria uma
canção de amor.
Mas se divertiria em saber que
mais de um terço dos eleitores da
ultra-esquerdista Heloísa Helena
se declararam de direita. Como se
sente a fofa e feroz senadora ao ser
apoiada por esses peçonhentos?
Talvez ela acredite que a direita heloisista seja não-peçonhenta, uma
direita do bem.
Lula só chegou ao poder e só vai
se manter nele com o apoio da direita, a mesma que é sempre acusada por ele de conspirar para desestabilizar o governo popular e de ser
responsável por tudo de ruim que
acontece no país há 500 anos.
Mas é cada vez mais difícil entender o que para Lula são "as elites" e
o que é "a direita", além de grandes
vilões de nossa história.
Como definir essa massa amorfa
e colossal que forma a direita lulista? Será que o povão confunde ser
"de direita" com ser "direito"? Acho
que não, já que esse pessoal vota
maciçamente em mensaleiros e
sanguessugas e não se importa se o
presidente sabia ou não, desde que
não perca o Bolsa-Família.
Já as "elites" devem ser "os ricos", que são sempre vorazes e
cruéis, que ficam furiosos ao ver os
pobres comerem, como diz Lula,
assim como a direita dizia que os
comunistas comiam criancinhas. A
esquerda e o povo são bons, a elite é
má e de direita.
Menos a elite sindical e a estatal,
a elite petista e a peemedebista e a
elite dos partidos corruptos, porque
são as elites lulistas.
Por ignorância, burrice ou esperteza demais, por desilusão, cinismo
ou oportunismo, a ideologia dominante no Brasil hoje não é de esquerda nem de direita, é o lulismo.
E é aí que mora o perigo.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Chuchu com sal e pimenta Próximo Texto: José Sarney: A grande ausente Índice
|