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MARCOS NOBRE
Evitar o desastre
A CRISE atual vai muito além
de Sarney ou da Receita Federal. Sua gravidade se estende a ásperas discussões sobre
câmbio, metas de inflação e regulamentação do pré-sal, geralmente
apresentadas como puramente
técnicas.
A valorização do real frente ao
dólar, por exemplo, provoca reação
de pânico no campo dos economistas heterodoxos. Projetam uma
sensível perda de competitividade
do país, veem a produção nacional
em risco e prescrevem algum tipo
de controle cambial. Economistas
ortodoxos desfilam tabelas para
provar a ineficácia de propostas de
controle cambial. Defendem com
afinco o sistema de metas atual,
propondo ajustes e uma redução
da meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central. Heterodoxos contra-atacam, dizendo que a
atual meta é adequada para permitir que o país tenha um crescimento próximo do razoável.
E por aí vai. Mas o fato é que o
próprio sistema de metas de inflação brasileiro está em crise. Ele teve um papel estabilizador da economia e da política enquanto as taxas de crescimento econômico foram medíocres e as taxas de juros
permaneceram altas. Quando essas condições se inverteram, o modelo mostrou limites que não parecem poder ser resolvidos com pequenos ajustes.
Não são mudanças superficiais.
Hoje o produtor que não consegue
competir ficou também sem a
compensação financeira dos juros
estratosféricos de antes. Quem
quer emprego e inflação baixa está
à mercê de um cruel cabo de guerra
no câmbio. E a exploração das jazidas do pré-sal tende a gerar um fluxo de divisas de fato destrutivo se
mantido o câmbio flutuante em
sua versão atual.
Com os governos FHC e Lula e
uma boa ajuda do pré-sal e da crise
econômica, o Brasil mudou de patamar no cenário mundial, o que é
certamente positivo. Só que isso
exige também um novo ajuste interno e externo, que, por enquanto,
aparece apenas em forma de crise.
A crise política está travando a solução da crise do sistema de gerenciamento macroeconômico e vice-versa. E a solução, se vier, chegará
apenas com as eleições de 2010.
O mais grave é que o atual ponto
de convergência entre as duas crises está posto justamente no debate da regulamentação do pré-sal.
Pressões de governadores por royalties de petróleo são apenas um
exemplo de uma regulamentação
que prejudicará o país por décadas.
Em um momento de impasse estrutural como esse, todos os esforços devem estar dirigidos para evitar o desastre. Para começar, isso
significa exigir um debate longo e
aprofundado sobre como explorar
e utilizar a riqueza do pré-sal.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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