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FERNANDO RODRIGUES
Capitalismo à brasileira
BRASÍLIA - Empresário sem ideologia há no planeta inteiro. Em períodos eleitorais, fica bem com todos no establishment. Nos EUA, em
2008, essa gente doou para o democrata Barack Obama e para o republicano John McCain.
Mas há limites em sociedades
mais sofisticadas. Muitos escolhem
ter um lado. Steve Jobs, da Apple,
doou US$ 229 mil desde 1982 a políticos e a partidos. Desse total, destinou só US$ 1.000 a um candidato
republicano ao Senado. Suas doações são quase exclusivamente para democratas. A Apple, como se
sabe, atravessou muito bem os
anos da dinastia Bush. Já Bill Gates,
da Microsoft, pulveriza recursos
meio a meio entre democratas e republicanos -compreensível.
No Brasil, é raro um grande empresário revelar em público sua intenção de doar só a Dilma Rousseff
(PT) ou a José Serra (PSDB). Nesta
semana, o maior homem de negócios do país, Eike Batista, declarou
ter dado dinheiro à petista e ao tucano, de maneira indistinta. Por
quê? "Em prol da democracia", respondeu. Em seguida, no programa
"Roda Viva", da TV Cultura, deu
mais clareza ao seu ato: "Não vão
atrasar os meus projetos nos vários
Estados por causa de política".
Democracia e negócios não devem ser nem são excludentes. Mas
Eike Batista, banqueiros e empreiteiros fazem pouco "em prol da democracia". O dinheiro sai de seus
bolsos por uma razão utilitária. O
recurso não é oferecido a um candidato porque sua proposta na área
da educação é considerada ótima.
Grandes empresários -com as
exceções de praxe- costumam reclamar da má qualidade dos políticos. Poucos têm coragem de fazer
críticas em público. Pusilânimes,
doam a quase todos os candidatos
com alguma chance de vitória. Perpetuam um ambiente no qual prosperam sempre. Um capitalismo à
brasileira, sem risco. Mais um oximoro produzido pela forma invertebrada de se fazer política no Brasil.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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