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CLÓVIS ROSSI
Tiros na ética
SÃO PAULO - A campanha eleitoral 2006 termina como começou a
de 2002: com fotos de pilhas e pilhas de dinheiro, feitas pela Polícia
Federal ao apreendê-las das mãos
de operadores políticos (para usar
um eufemismo bem brando que é
domingo, dia do Senhor).
Em 2002, foi dinheiro da campanha de Roseana Sarney, pré-candidata à Presidência pelo PFL, já líder
nas pesquisas do momento. A foto
dinamitou sua candidatura. Favoreceu José Serra que pôde então
tornar-se o candidato da coligação
PFL/PSDB.
Mas favoreceu também Luiz Inácio Lula da Silva, que, ausente Roseana, subiu ao topo das pesquisas e
nunca mais desceu.
Agora, o dinheiro foi apreendido
com petistas.
São dois instantâneos preciosos
do modo de fazer política no Brasil.
Primeiro, porque revelam que políticos de diferentes partidos operam
com dinheiro cuja origem não pode
ser bem explicada.
Já é eloqüente. Mas, no caso do
PT, é pior: se a origem é obscura e
portanto suspeita, a finalidade é
ainda mais sórdida, como o próprio
presidente da República já admitiu
uma e outra vez.
É mais eloqüente ainda a respeito
do modo PT de fazer política.
Mas há um segundo dado, igualmente sórdido: a tentativa, em ambos os casos, de atacar a divulgação
da foto, em vez de explicar o dinheiro. A gritaria do lulo-petismo, agora, como a dos Sarney em 2002, é de
um cinismo atroz.
O problema não está na exibição
das fotos, mas na existência delas,
prova de um trambique.
Falar em "golpismo" da oposição
é tentar proteger os verdadeiros
golpistas, apanhados com a mão na
massa de dinheiro e que pertencem
todos, todos, todos, sem exceção, ao
lulo-petismo.
Equivale a dar tiros consecutivos
na ética e colocar a arma na mão da
vítima, para confundir o público.
No Brasil, em geral cola.
crossi@uol.com.br
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