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Carbono à brasileira
País é quarto colocado no faturamento de créditos previstos no Protocolo de Kyoto; matriz energética limita projetos nacionais
O LEILÃO pioneiro de créditos de carbono realizado na quarta-feira,
na Bolsa de Mercadorias e Futuros, marca uma nova
etapa desse mercado no Brasil,
onde suas perspectivas de ampliação, no entanto, são limitadas. Os R$ 34 milhões pagos pelo
banco belgo-holandês Fortis à
Prefeitura de
São Paulo não
inauguraram a
coleta de receita
com as emissões
evitadas no aterro sanitário Bandeirantes, mas
pela primeira
vez isso ocorre
em um pregão.
Os créditos se
baseiam no Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL),
previsto pelo
Protocolo de
Kyoto. O instrumento busca incentivar reduções na emissão de
gases do efeito estufa em países
menos desenvolvidos, cuja contribuição para o aquecimento
global cresce de modo acelerado.
A premissa é que custa menos diminuir emissões nesses países.
Os projetos certificados têm
permissão para emitir um bônus
financeiro. Os compradores desses papéis podem ser países desenvolvidos com dificuldade de
reduzir suas emissões domésticas ou empresas em busca de um
selo "verde" -por exemplo para
neutralizar os gases do efeito estufa que a sua atividade produz.
Até especuladores à espera da
valorização desses títulos são
seus compradores potenciais.
A idéia do MDL, portanto, é
simples. Todos que estabeleceram uma meta de redução dos
gases que contribuem para o
aquecimento global, em vez de
cumpri-la autonomamente, podem pagar para quem o faz. O
comprador do crédito do aterro
Bandeirantes, por exemplo, terá
o direito de abater de suas metas
o equivalente a 808 mil toneladas de CO2, quantidade que o
projeto evita que seja lançada na
atmosfera.
Por ora o mercado de MDL é
dominado por
quatro países,
Índia à frente. A
China deve ultrapassá-la logo,
pois 53% dos
créditos de projetos em preparação vêm de lá.
O Brasil tem
participação no
MDL proporcional a seu porte econômico,
mas sai prejudicado por ter matriz energética
mais limpa, que dá menos oportunidades de reduzir emissões.
Três quartos do carbono que
lançamos na atmosfera provêm
de desmatamento, cuja redução
não gera créditos no MDL.
O governo federal pretende ser
remunerado por esse serviço
ambiental planetário, mas resiste a fazê-lo por mecanismos de
mercado e a adotar metas obrigatórias de redução das emissões. Está mais do que na hora
de rever tal posição.
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