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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Teoria do chinelinho
SÃO PAULO - "É dando que se recebe" -quem não se lembra da divisa do deputado Roberto Cardoso
Alves? Robertão foi um dos líderes
do famoso Centrão durante a Constituinte de 1988, um verdadeiro filósofo da fisiologia na aurora da redemocratização do país. À época, o
uso do lema franciscano para lustrar o "toma lá, dá cá", que corria
solto no governo Sarney, se tornou
sinônimo de política espúria e retrógrada, uma síntese do que deveria ser repelido e enfrentado pelos
então progressistas.
O mundo dá voltas. Robertão se
foi, vítima de um acidente em 1996.
Não viveu para ver sua lição assimilada com louvor pelo "governo popular". Patrocinados pelo Planalto,
a barganha a céu aberto, o troca-troca frenético e o balcão de negócios já estão por merecer o selo
"nunca antes neste país". Brasília
testemunha dias de desassombro.
Antigamente as coisas eram piores, mas depois pioraram -nos ensina o escritor mineiro Paulo Mendes Campos. Vejam seu conterrâneo Wellington Salgado, pitbull da
tropa de Renan Calheiros, senador
pelo PMDB, suplente do ministro
Hélio Costa, uma das figuras mais
ricas de Minas Gerais. Diz este notório homem público que "os franciscanos [senadores do PMDB] não
querem sapato de cromo alemão, só
um chinelinho novo".
Comparados aos parasitas de hoje, os ideólogos do Centrão ainda
vão passar à história como estadistas, precursores, homens de visão.
A absolvição de Renan, orquestrada pelo bigode invisível de Mercadante et caterva, instalou o jogo
do poder no terreno da desfaçatez
irreversível. O varejão da CPMF é
apenas o desdobramento lógico de
uma política de Estado. Omissa,
cúmplice ou acéfala, a oposição é
incapaz de confrontar o PRI à brasileira formado em torno de Lula.
Ciro Gomes disse que a mídia do
país "é um desastre" e promove a
"novelização escandalosa da política". A frase é boa e faz pensar. Mas
convém não perder de vista quem
são os canastrões dessa trama.
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