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VALDO CRUZ
Boquinha insaciável
BRASÍLIA - Nunca antes na história deste país falou-se tão aberta e
explicitamente de distribuição de
cargos entre os partidos da base
aliada. Taí, essa bem que poderia
ser mais uma das inúmeras conquistas que o presidente Lula costuma alardear como realizações de
seu governo.
Não que ela seja uma prática nova, mas é fato que na administração
petista passou a ser debatida à luz
do dia. Talvez até seja uma virtude,
expor publicamente as mazelas do
jogo do fisiologismo. Quem sabe o
eleitor um dia se toca e toca pra fora
do Congresso esse pessoal.
Essa, sim, seria uma grande realização lulista, que sucumbiu ao toma-lá-dá-cá, como seus antecessores. Os petistas se defendem dizendo que foram obrigados a seguir a
mesma trilha para governar o país.
Nada mais falso. Se tem um partido que se converteu rápida e alegremente à corrida por cargos públicos, foi o PT. Como, então, condenar o apetite dos aliados por boquinhas em ministérios e estatais se o
deles é insaciável?
Por sinal, aí está a origem da derrota imposta pelos senadores peemedebistas ao governo na semana
passada. Silenciosamente, petistas
foram roubando cargos do setor
elétrico sob controle do PMDB.
De uma lista de 26 cargos pleiteados pelo partido ao Palácio do Planalto, cerca de dez ainda estão indefinidos. A maioria em estatais ligadas ao Ministério de Minas e Energia, onde se concentra o interesse
dos senadores peemedebistas, e o
PT foi acampando como quem não
queria nada. O que os peemedebistas não dizem abertamente, mas
protestam reservadamente, é que
essa estratégia contou com o aval
do presidente Lula, que acabou recebendo o troco no Senado.
O fato é que o PMDB mostrou ao
presidente que sabe lidar com seu
jogo de empurra, que costuma prometer, mas cumprir só com a faca
no pescoço. Algo lá não muito eficiente. Mas, se essa é a regra, diz o
PMDB, que seja seguida. Com muito prazer.
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