São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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RESULTADO FINAL

A eleição do candidato José Serra em São Paulo impôs não apenas uma derrota à prefeita Marta Suplicy mas também um importante revés político ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Somado aos insucessos das candidaturas apoiadas pelo Planalto em Curitiba, Goiânia e sobretudo em Porto Alegre, onde o petismo governa há 16 anos, o triunfo de Serra compõe um cenário bem mais adverso do que o inicialmente idealizado pelo PT.
Se os resultados das eleições municipais não devem influenciar decisivamente o próximo pleito presidencial, eles são um aspecto relevante para definir a arena política na qual a segunda metade do mandato e os embates com vistas à sucessão de Lula irão transcorrer.
Ao preferir não concentrar mais poderes nas mãos do PT, o eleitor de São Paulo, voluntariamente ou não, sancionou as avaliações de que o governador Geraldo Alckmin poderia sair da campanha como o virtual candidato do PSDB à disputa de 2006. Alckmin, cujo partido foi muito bem no segundo turno, obtendo vitórias significativas em diversas cidades, governa o principal Estado do país e empenhou-se para derrotar o PT numa eleição considerada estratégica pelo governo federal -a ponto de o presidente da República ter se envolvido diretamente nos esforços para reeleger sua candidata.
No que tange a São Paulo, é de ressaltar a boa qualidade da contenda eleitoral, que, a despeito de falhas e deslizes, envolveu dois candidatos com credenciais suficientes para administrar o mais complexo centro urbano brasileiro.
O novo prefeito, que há apenas dois anos postulava a Presidência da República, é um homem público talentoso, de reconhecida competência, cuja carreira política justifica expectativas de uma administração inovadora e que faça diferença.
Ao elegê-lo, os paulistanos certamente optaram por uma mudança política e administrativa, mas isso não significa que o novo prefeito deva voltar as costas para os aspectos mais bem sucedidos do período de sua antecessora.
É de esperar -e o histórico de Serra assim o sugere- que a administração vindoura saiba discernir, como foi enfatizado durante a campanha, entre o que deve ser aperfeiçoado e o que é preciso efetivamente mudar. Com graves dificuldades administrativas e uma dívida pública que já se aproxima dos R$ 30 bilhões, São Paulo exigirá do futuro prefeito empenho extraordinário para superar obstáculos e conseguir contar com os investimentos de que a cidade necessita.
Nesse sentido, da mesma forma que é preciso cobrar de José Serra que administre para todos os paulistanos, não há outra atitude a esperar do governo federal senão que confira à capital a atenção devida à maior metrópole do país.
Quanto à prefeita Marta Suplicy, em que pese ter sido preterida, deverá continuar exercendo papel de relevo no cenário político. Deixa a prefeitura com uma administração relativamente bem avaliada, com mais experiência e um patrimônio eleitoral significativo.
De uma maneira geral, as eleições municipais demonstraram que a democracia brasileira vai amadurecendo a cada pleito. Se PT e PSDB têm motivos para considerar que obtiveram êxitos, o eleitor também contemplou outras forças do espectro partidário. O cenário que emerge das urnas é o de um país politicamente centrista, mas plural.


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