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JOÃO SAYAD
Desenvolvimento desequilibrado
A administração Bush recuperou o crescimento da economia
americana com uma redução injusta
de impostos e aumento do déficit público. Em conseqüência, os Estados
Unidos estão importando mais do que
exportam e acumulam dívida externa
cada vez maior. O dólar desvalorizou-se em relação ao euro.
China e Japão compram dólares para evitar a valorização de suas moedas.
Defendem as exportações e o crescimento. A China já tem reservas de
US$ 500 bilhões.
A América Latina retoma o crescimento. Cresce agora com saldos positivos no balanço de transações correntes. Muitos países da região antecipam
pagamentos da dívida externa. Preferem financiar-se em moeda nacional.
Aproveitam o momento para se proteger contra o efeito das crises cambiais que impediram o crescimento da
região por tanto tempo e tantas vezes.
O Brasil cresce às taxas médias da região. Mas as altas taxas de juros brasileiras inibem o crescimento do crédito
em reais e incentivam o crédito em
dólares. Não aproveitamos o período
de bonança para acumular reservas.
Se a economia mudar depois das eleições americanas, perdemos a oportunidade.
Os desequilíbrios público e externo
dos Estados Unidos não deveriam ser
criticados por serem desequilíbrios.
Nem os chineses devem ser criticados
porque acumulam montanhas de papel verde em troca do suor dos seus
trabalhadores. Crescimento é desequilíbrio. A política norte-americana
pode ser criticada apenas por produzir um desequilíbrio que talvez não
dure muito tempo.
O discurso contemporâneo a favor
do desenvolvimento equilibrado baseia-se na experiência particular da
economia mundial depois da Segunda
Guerra. Entre 1945 e 1980, a economia
mundial cresceu a taxas constantes,
participação estável do trabalho e do
capital na renda e baixo desemprego.
O pesadelo da crise de 30 e da ameaça
marxista de crise final do capitalismo
estavam afastados.
Na realidade, a história da economia
capitalista é marcada por crises e períodos muito diferentes. Os 30 anos de
rápido crescimento do pós-Guerra,
que inspiraram a idéia de desenvolvimento equilibrado, são apenas um intervalo. Assim como os anos dourados do padrão-ouro antes da Primeira
Guerra, marcados pela deflação. Entre
as duas guerras, o mundo viveu várias
crises de hiperinflação e a crise de
1929. Os últimos 20 anos de globalização financeira são anos de estabilidade ou deflação, desemprego elevado e
uma fieira de crises financeiras internacionais.
A realidade é mais rica e surpreendente do que qualquer dos esquemas
que a descrevem. Dogmatismo é a
substituição total da realidade por um
esquema que a representa. O desenvolvimento real é sustentado por desequilíbrios que geram outros desequilíbrios.
Se o desenvolvimento sustentado
fosse equilibrado, os adultos seriam
apenas o resultado da ampliação das
proporções infantis. O Brasil de 2006
seria um Brasil igual ao de 1870 com
170 milhões de habitantes. No lugar
do café, a soja. No lugar dos escravos,
trabalhadores bem empregados.
Quem não couber no modelo ficará
excluído.
João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.
@ - jsayad@attglobal.net
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