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KENNETH MAXWELL
Bush e Cuba
NESTA TERÇA-FEIRA , em
Nova York, a Assembléia
Geral da ONU votou pela
décima sexta vez contra o embargo
econômico a Cuba. Só os Estados
Unidos, Israel, as Ilhas Marshall e
Palau votaram a favor. Se há uma
política que merece ser definida
inequivocamente como fracasso é
o embargo econômico que os Estados Unidos impuseram a Cuba há
cinco décadas. Diversos presidentes assumiram o cargo e o deixaram, nos EUA, desde que Fidel
Castro tomou Havana, em 1959. E
agora, aos 81 anos e muito doente,
ele continua lá; na prática, aliás,
Castro conseguiu orquestrar uma
transição suave do poder para o seu
irmão Raúl -mais pragmático, menos ideológico e definitivamente
menos carismático.
Mas, se os 700 mil exilados cubanos inimigos de Castro que se instalaram em Miami e no condado de
Dade, na Flórida, não foram capazes de promover uma "mudança de
regime" na ilha, eles exerceram influência crucial sobre a "mudança
de regime" nos Estados Unidos, já
que seu poder político ajudou a dar
a vitória a Bush nas muito contestadas eleições presidenciais de
2000, gerando as condições para
que a Corte Suprema norte-americana subseqüentemente confirmasse Bush, e não Gore, como presidente. A família Bush sabe que
deve -e deve muito- aos cubanos.
Não surpreende, portanto, que,
no momento em que o governo
Bush enfim volta suas atenções à
América Latina, depois de sete
anos de negligência, como aconteceu na semana passada com a proposta de um grande programa de
assistência à guerra do México
contra as drogas e com a busca de
apoio político a um acordo de livre
comércio com a Colômbia, Bush
tenha também convocado o corpo
diplomático, a imprensa e um grupo de dissidentes cubanos para ressuscitar uma vez mais o velho ogro
que vive do lado de lá do estreito da
Flórida. Ele também propôs um
"Fundo da Liberdade", para ajudar
o governo cubano pós-Castro, rejeitou a idéia de qualquer diálogo
com Raúl e classificou a ilha como
"Gulag tropical".
Ninguém negaria que não existe
liberdade em Cuba. Mas o "Gulag
tropical" que existe na ilha no momento não foi criado por Castro -o
responsável por ele é Bush, e o nome do lugar é Gitmo. Trata-se da
base norte-americana na baía de
Guantánamo, na qual Bush nega as
proteções constitucionais e os procedimentos normais da Justiça
norte-americana aos prisioneiros
islâmicos lá detidos por prazo indefinido. Esse não é um bom exemplo de democracia norte-americana, para os cubanos.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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