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ELIANE CANTANHÊDE
Quem pode pode
BRASÍLIA - A crise de Honduras
foi um marco em vários sentidos,
mas o principal deles foi reavivar a
memória latino-americana e brasileira, em particular, para um dado
da realidade: os EUA são os EUA.
Com Bush, a potência perdeu
gradativa importância na América
Latina e sobretudo na América do
Sul, onde o Brasil vem emergindo e
ocupando o vácuo norte-americano
em sucessivos episódios. O mais
simbólico deles foi quando a Colômbia invadiu o território do
Equador para aniquilar uma base e
o segundo principal líder das Farc.
O Brasil aproveitou para reforçar
a parceria com Argentina e Chile,
neutralizar a influência da Venezuela e baixar a bola dos EUA na
OEA. Pela primeira vez, Washington ficou isolado, e todos os demais
países se uniram na condenação à
Colômbia. Assim ganhou gás a Unasul, que reúne os países sul-americanos num grupo paralelo à OEA.
Ou seja: sem os EUA.
Até que... entram em cena o peculiar Zelaya, que não é nenhuma flor
que se cheire, e Roberto Micheletti,
o golpista que cheira pior ainda. Um
teste para os limites de autonomia
da América do Sul, para os arroubos
de liderança do Brasil e para os EUA
pós-crise e com Obama.
Desde cedo, ficou claro que só os
EUA tinham de fato os recursos
-em seus vários significados- para
resolver a crise. Tanto que Lula telefonou para Obama, em 21 de agosto, e pediu que "aumentasse a pressão" por uma solução em Honduras. Um pedido na direção oposta
aos da crise Colômbia-Equador.
Por sorte, o personagem central
da negociação se chama Thomas
Shannon. Vem a ser o homem para
o Hemisfério Sul do governo Bush e
o futuro embaixador no Brasil do
governo Obama. Uma ponte importantíssima entre o poder que os
EUA nunca deixaram de ter e a liderança que o Brasil almeja.
Agora, é combinar com os russos.
Quem confia na palavra e nas ações
de tipos como Zelaya e Micheletti?
eliane@uol.com.br
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