São Paulo, sexta-feira, 01 de dezembro de 2006

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A longa espera

PIB repete resultado pífio no terceiro trimestre e evidencia incapacidade da política econômica de estimular investimentos

QUANDO se soube que o PIB do Brasil havia crescido apenas 0,5% no segundo trimestre deste ano, houve certa surpresa, pois não se esperava resultado tão pífio. Mas logo o governismo e alguns analistas se apressaram em alertar que o resultado havia sido prejudicado por fatores pontuais, em especial uma paralisação de fiscais da Receita que provocara grande represamento de embarques de exportações. A regularização dessas operações concorreria, argumentava-se, para uma clara aceleração da economia no terceiro trimestre.
Divulgados ontem, no entanto, os números do PIB relativos ao terceiro trimestre desmentiram esse prognóstico: a expansão do produto, sobre o trimestre anterior, limitou-se novamente a 0,5%. E desta feita não chegou a haver surpresa: os analistas de bancos e consultorias projetavam, em média, desempenho apenas ligeiramente melhor.
A expectativa de um resultado fraco se amparava, em parte, na constatação de que, embora o consumo continuasse em expansão, vinha sendo atendido de modo crescente por produtos importados. Além disso, a recuperação do investimento segue tímida -e a demanda por máquinas e equipamentos vem sendo suprida cada vez mais também pelas importações.
Vale lembrar que o Banco Central maneja a taxa de juros na suposição de que os efeitos das mudanças nessa variável sobre a demanda interna e os preços levem entre dois e três trimestres para materializar-se.
Seguindo o raciocínio, o desempenho da economia no segundo e no terceiro trimestres de 2006 teria sido bastante condicionado pelos cortes de juros promovidos a partir de setembro de 2005. E de fato o consumo reagiu, apresentando aceleração. A reação do investimento produtivo, no entanto, foi decepcionante. Além dos números do PIB, atesta a falta de ânimo de boa parte das empresas para investir o fato de que o BNDES se vê com recursos ociosos.
É cada vez mais evidente a correlação entre o baixo investimento e a trajetória do câmbio. A apreciação do real estimula o consumo ao baratear as importações, mas desestimula a expansão da capacidade produtiva nos setores que competem com importados -e naqueles que dependem do câmbio para sobrenadar no mercado internacional.
O longo período de baixo crescimento da economia brasileira reflete a prolongada incapacidade da política econômica de estimular de modo efetivo e sustentado o investimento. Os números sobre o desempenho da economia em 2006 -com os quais o presidente Lula afirma agora não se preocupar- ilustram que o desafio de alavancar o investimento segue sem resposta.
O mandato se encerra, o presidente foi reeleito, mas demonstra não ter a mínima idéia de como alterar esse quadro. A espera pelo "espetáculo" do crescimento, assim, se prolonga.


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