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A longa espera
PIB repete resultado pífio no terceiro trimestre e evidencia incapacidade da política econômica de estimular investimentos
QUANDO se soube que o
PIB do Brasil havia
crescido apenas 0,5%
no segundo trimestre
deste ano, houve certa surpresa,
pois não se esperava resultado
tão pífio. Mas logo o governismo
e alguns analistas se apressaram
em alertar que o resultado havia
sido prejudicado por fatores
pontuais, em especial uma paralisação de fiscais da Receita que
provocara grande represamento
de embarques de exportações. A
regularização dessas operações
concorreria, argumentava-se,
para uma clara aceleração da
economia no terceiro trimestre.
Divulgados ontem, no entanto,
os números do PIB relativos ao
terceiro trimestre desmentiram
esse prognóstico: a expansão do
produto, sobre o trimestre anterior, limitou-se novamente a
0,5%. E desta feita não chegou a
haver surpresa: os analistas de
bancos e consultorias projetavam, em média, desempenho
apenas ligeiramente melhor.
A expectativa de um resultado
fraco se amparava, em parte, na
constatação de que, embora o
consumo continuasse em expansão, vinha sendo atendido de
modo crescente por produtos
importados. Além disso, a recuperação do investimento segue
tímida -e a demanda por máquinas e equipamentos vem sendo
suprida cada vez mais também
pelas importações.
Vale lembrar que o Banco Central maneja a taxa de juros na suposição de que os efeitos das mudanças nessa variável sobre a demanda interna e os preços levem
entre dois e três trimestres para
materializar-se.
Seguindo o raciocínio, o desempenho da economia no segundo e no terceiro trimestres
de 2006 teria sido bastante condicionado pelos cortes de juros
promovidos a partir de setembro
de 2005. E de fato o consumo
reagiu, apresentando aceleração.
A reação do investimento produtivo, no entanto, foi decepcionante. Além dos números do
PIB, atesta a falta de ânimo de
boa parte das empresas para investir o fato de que o BNDES se
vê com recursos ociosos.
É cada vez mais evidente a correlação entre o baixo investimento e a trajetória do câmbio. A
apreciação do real estimula o
consumo ao baratear as importações, mas desestimula a expansão da capacidade produtiva nos
setores que competem com importados -e naqueles que dependem do câmbio para sobrenadar no mercado internacional.
O longo período de baixo crescimento da economia brasileira
reflete a prolongada incapacidade da política econômica de estimular de modo efetivo e sustentado o investimento. Os números sobre o desempenho da economia em 2006 -com os quais o
presidente Lula afirma agora
não se preocupar- ilustram que
o desafio de alavancar o investimento segue sem resposta.
O mandato se encerra, o presidente foi reeleito, mas demonstra não ter a mínima idéia de como alterar esse quadro. A espera
pelo "espetáculo" do crescimento, assim, se prolonga.
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