São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

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O mensalão do DEM

Depois do PT e do PSDB, Democratas enfrentam escândalo de pagamento de propinas a aliados de José Roberto Arruda

OS VÍDEOS que vieram a público no final de semana não deixam margem para dúvida: políticos em romaria ao escritório de Durval Barbosa, secretário de Relações Institucionais do governador José Roberto Arruda (DEM-DF), para receber maços volumosos de dinheiro. O caso já está sendo chamado de "mensalão do Democratas".
Uma das peças centrais da investigação da Polícia Federal está em gravação na qual Arruda pede a um assessor que repasse a políticos aliados dinheiro de empresas contratadas pelo governo do Distrito Federal. Busca da PF nas casas de auxiliares diretos de Arruda resultaram na apreensão de R$ 700 mil. O próprio secretário Barbosa está colaborando com a investigação.
Arruda reagiu alegando indignação e perplexidade com os fatos denunciados. Afastou, além de Barbosa, José Geraldo Maciel (chefe da Casa Civil), Fábio Simão (chefe de gabinete), José Luiz Vieira Valente (secretário da Educação) e Omézio Pontes (assessor de imprensa).
Em nota assinada também por seu vice, Paulo Octávio (DEM-DF), o único governador eleito pelo Democratas nega as acusações e se diz vítima de suposta trama armada por Barbosa. Afirma, sem apresentar notas, que os recursos que recebeu foram contabilizados e que há problemas técnicos no vídeo em que aparece recebendo dinheiro vivo.
Arruda protagonizou há nove anos outro espetáculo lamentável da política nacional. Acusado de participar de violação do sigilo de votos no Senado, começou negando tudo e terminou por renunciar ao mandato, para escapar de cassação. Deixou o PSDB e, já no DEM, elegeu-se governador. Será espantoso se conseguir recuperar-se deste novo e grave escândalo, agora de corrupção.
As atenções se voltam doravante para seu partido, que vem encolhendo à sombra do PSDB, com o qual faz dueto na oposição ao governo Lula e seu PT.
O DEM já fora alvejado na bandeira da austeridade fiscal, quando outra estrela da sigla, o prefeito paulistano Gilberto Kassab, recorreu ao aumento de imposto para sustentar gastos da máquina. Agora é a bandeira da moralidade a atingida, uma vez exposto o nível de malversação no governo estadual do partido. Da gestão Arruda, vale lembrar, participam PSB, PDT, PPS e PSDB -os três primeiros anunciaram ontem a saída do governo.
O princípio da presunção de inocência impõe aguardar a conclusão das investigações, e seu exame pela Justiça, para aferir o grau de responsabilidade do governador do DEM. As cenas gravadas, porém, falam por si. E em nada prejudicará as investigações que Arruda e seu partido se adiantem e ofereçam explicações -se houver- e satisfação à opinião pública, diante da gravidade política dos fatos.
Qualquer que seja o desfecho, uma constatação lamentável se impõe desde já: três dos maiores partidos agora têm um mensalão no prontuário. O do PT, federal, prossegue sob exame do Supremo Tribunal Federal, assim como o do PSDB mineiro. O do DEM dá seus primeiros passos, como para confirmar que corrupção não é exclusividade de nenhuma agremiação, mas vício arraigado da política brasileira.


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