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Sem elefantes brancos
Brasil ainda tem condições de dar exemplo de inteligência e criatividade no planejamento das obras para a Copa-2014 e para a Olimpíada Rio-2016
Em visita ao Rio de Janeiro, o
presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), Jacques Rogge,
lançou na semana passada um
inesperado e elogiável apelo para
que a sede da Olimpíada de 2016
não repita os erros de Atenas-04 e
Pequim-08, procurando evitar os
chamados "elefantes brancos".
"Nós precisamos de muita responsabilidade e levar em conta
muitos aspectos. Toda vez que
planejamos uma instalação, temos que nos preocupar para que
ela não seja muito grande", disse
o dirigente, que lembrou a necessidade de pensar no que acontecerá com as instalações depois da
realização dos Jogos.
Na capital chinesa, por exemplo, o famoso estádio Ninho de
Pássaro custou US$ 450 milhões
(cerca de R$ 770 milhões) para ser
palco da abertura e do encerramento do evento -e hoje raramente encontra algum uso.
O alerta, que vem a calhar, vale
também para a Copa do Mundo de
2014. Os dois eventos consumirão
vultosos recursos públicos. Conhecendo-se os padrões de fiscalização e lisura na realização de
grandes obras no país, não são
desprezíveis os riscos inerentes a
esses empreendimentos, como erros de planejamento, fraudes,
atrasos e desperdícios.
Sede da próxima Olimpíada,
em 2012, a cidade de Londres promete dar, nesse sentido, um bom
exemplo. Seu parque olímpico foi
planejado para utilizar estruturas
desmontáveis, permitindo a reciclagem do material em outras
construções. O principal estádio
poderá abrigar 80 mil pessoas durante a competição -mas depois
será reduzido a 25 mil lugares para
se adequar à vida da cidade.
Em seu discurso no Rio, o presidente do COI mencionou a proposta londrina como um alternativa para baratear os custos.
Não se deve esquecer o péssimo
legado dos Jogos Pan-Americanos
de 2007. Se aquela competição
permitiu um ensaio para a conquista do direito do Brasil de patrocinar a Olimpíada, muito do
que foi feito é para não se repetir.
Custos estouraram, estruturas tornaram-se ociosas e o legado para a
cidade do Rio, em termos de melhorias urbanas, foi nulo.
No caso da Copa de 2014, as
chances de evitar problemas dessa ordem parecem cada vez menores. A perspectiva de construção
de "elefantes brancos" já começa
a se transformar em realidade.
Cidades com pouca capacidade
de atração de plateias esportivas
candidatam-se a erguer estádios
que jamais terão sua capacidade
preenchida após as poucas partidas internacionais que irão receber. Mesmo em São Paulo, a maior
cidade do país, são consideráveis
as chances de uso de recursos públicos para construir uma arena
com dimensão acima do razoável.
O Brasil, que sem dúvida faz jus
a receber eventos dessa magnitude, ainda tem tempo e condições
de evitar o pior, oferecendo ao
mundo um exemplo de inteligência e criatividade -e não apenas
uma coleção de obras faraônicas.
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