São Paulo, segunda-feira, 02 de fevereiro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Víboras e serpentes

RIO DE JANEIRO - Não dá para aceitar os políticos como políticos. Cidadãos comuns, pedestres ou não, ricos ou pobres, inteligentes ou burros, todos carregam a condição humana, os pés de barro do nosso DNA bíblico -por isso merecem respeito, carinho e, em alguns casos, admiração.
Mas, como políticos em si, são como os cosmonautas que escapam da lei da gravidade e ficam girando no espaço, sem a gente saber onde fica a cabeça ou as pernas, se estão deitados ou sentados, rolam de cá para lá e ainda se dão ao trabalho extra de fazer gracinhas com a escova de dentes.
Sem entrar no mérito dos episódios em si, cito dois casos recentes que normalmente seriam inexplicáveis, mas que a classe política absorve como naturais e até inteligentes.
Cristovam Buarque saiu do ministério atirando. Era considerado um dos intelectuais do partido, um patrimônio, uma reserva moral do PT, exaltado por companheiros históricos, que atravessaram duas décadas na oposição. Ficamos sabendo agora que ele não era nada disso -a julgar pelas respostas que seus ex-correligionários estão dando às suas críticas.
Num outro pólo, que envolve dois amigos pessoais, temos o caso de Brizola com Miro Teixeira. Reiterando que não entro no mérito da questão, estranho que dois companheiros, há tanto tempo juntos, desatem uma solidariedade até comovente. Miro foi o primeiro a reconhecer a vitória de Brizola em 1998, numa eleição em que concorria com ele e que estava sendo corrompida pela Proconsult. Foi um gesto bonito, raro na seara política.
Não merecia de Brizola a referência agora feita, lembrando que Miro Teixeira pertencera à equipe de Chagas Freitas -um ex-governador satanizado porque foi, acima de tudo, um político que só sabia fazer política.
Não entendo este vale-tudo que coloca o interesse de circunstância acima de valores maiores, como o da amizade e do respeito que devemos a todos.



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