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Medo de crescer
BC fala em demanda "robusta", diagnóstico exagerado que limita corte de juros, fortalece o real e subtrai vigor do PIB
A DECISÃO do Banco Central de reduzir a taxa
básica de juros em apenas 0,25 ponto percentual, na semana passada, foi recebida com compreensível decepção por muitos analistas e representantes do setor produtivo.
Os vários elementos que condicionam as perspectivas da inflação apontavam para a plena
viabilidade, do ponto de vista
técnico, de uma redução de juros
mais pronunciada. Tanto o comportamento recente dos preços
como a evolução das expectativas a respeito de sua trajetória
futura eram favoráveis.
Por isso mesmo havia analistas
que, a despeito da extrema cautela antiinflacionária que vem
caracterizando a atuação do BC,
previam uma redução de meio
ponto percentual -de dimensão
equivalente à dos cortes determinados nas cinco reuniões anteriores do Comitê de Política
Monetária (Copom).
A decepção foi reforçada ontem, com a divulgação da ata da
reunião, em que foram apresentadas justificativas mais detalhadas para a decisão de reduzir o
ritmo de corte da taxa Selic.
As mudanças mais importantes na redação do documento -
comparativamente às atas das
reuniões anteriores do Copom-
concentraram-se na caracterização do quadro atual e prospectivo da atividade econômica.
O BC passou a falar, por exemplo, numa tendência de "aceleração" da produção da indústria
em 2007, quando antes mencionava apenas que a expansão fabril deveria "continuar". Além
disso, o documento apresenta a
avaliação de que a demanda doméstica se encontra "aquecida" e
"em expansão robusta".
Assim, se antes o BC considerava baixa a probabilidade de
que o ritmo da atividade econômica viesse a gerar pressões significativas sobre a inflação, agora
ele afirma que essa probabilidade ainda não parece elevada.
Uma avaliação mais realista indicaria que esse risco é desprezível. O ritmo de expansão da demanda doméstica está próximo
de 4% ao ano- ritmo que fica
longe de "robusto", se se leva em
conta que nos demais países
emergentes ele se mantém perto
de 7%. E as condições são muito
propícias para que eventuais carências de oferta sejam supridas
por importações, evitando-se
pressões sobre os preços.
O excesso de cautela em que o
BC persiste tem efeitos adversos
importantes. Os setores endividados (com destaque para o poder público) são onerados desnecessariamente, e tira-se pouco
proveito de uma maré global excepcionalmente favorável.
A combinação entre bonança
externa -reforçada por novas
evidências de que os riscos inflacionários nos EUA se diluem- e
juros domésticos elevados reforça a tendência de alta do real.
Trata-se de fator que corrói a capacidade da indústria instalada
no Brasil de competir, rebaixando as perspectivas de crescimento da economia em médio prazo.
Não foi por acaso, portanto,
que a cotação do dólar no Brasil
chegou ontem a seu menor nível
em nove meses. A política econômica continua devendo uma alternativa para o arranjo debilitante de juros altos e dólar baixo.
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