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ELIANE CANTANHÊDE
O preço do mercúrio
BRASÍLIA - Marcos Lima, assessor parlamentar do Planalto, desfilou pelo plenário ontem, ora cochichando com um, ora com outro, durante a posse dos 513 deputados.
Lima, chamado de "neo-Waldomiro Diniz" por ocupar a mesma
função do ex-assessor de José Dirceu, virou troféu dos aliados de Aldo Rebelo para comprovar que o governo operou a favor do petista Arlindo Chinaglia na eleição na Câmara. O próprio Aldo ligou para o Planalto protestando.
Osmar Serraglio, relator da CPI
que investigou o mensalão, avisava
antes da votação: "A gente está vendo hoje como é difícil a competição
entre a moral e o rolo compressor".
Pode até ter se referido ao peso da
cúpula do PMDB, surpreendentemente unida em torno de Lula, de
Chinaglia e de candidatos definidos
a cargos na Mesa da Câmara. Mas
rolo compressor que se preze é instrumento de governo.
E não é nenhuma novidade. Existia no regime militar, sobreviveu na
reabertura com Sarney, foi tentado
por Collor sem sucesso, virou prática comum com FHC. A novidade é
que o governo de Lula e do PT é
igualzinho até nisso.
A eleição de ontem na Câmara teve bons candidatos -Aldo, Chinaglia e o tucano Gustavo Fruet. Mas,
se Severino caiu, os métodos severinos ficaram. Do contrário, que tipo
de liga, ou cola, põe na mesma corrente o PT, o PMDB, o PP, o PR,
mensaleiros e sanguessugas? E ninguém precisa saber exatamente
quem é quem, porque o voto foi secreto. Conclamados os resultados,
todo mundo (ou quase) pode dizer
que votou em quem ganhou.
Lula fingiu que não tinha nada a
ver com a eleição na Câmara, mas
sua equipe cooperou de fato a favor
de Chinaglia. E ele vai ter que articular a base aliada, sarar as feridas.
"Um pouco de mercúrio resolve
todo o problema", desdenhou Lula
ontem. Mercúrio caro esse, pois a
base se dividiu ao meio e Aldo saiu
da eleição bem machucado.
elianec@uol.com.br
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