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ROGÉRIO GENTILE
Justiça que não julga
SÃO PAULO - O Senado tem a rara
oportunidade, a partir de hoje, de
discutir um assunto que realmente
pode ajudar a melhorar o país: o novo Código de Processo Penal. O nome é sonolento, o seu conteúdo é
mais chato ainda, mas terríveis
mesmo são os efeitos que o atual código, obsoleto, produz sobre a vida
das pessoas e do Judiciário.
Criado em 1941, na ditadura Vargas, o texto em vigor sofreu algumas
alterações, mas continua a possibilitar uma quantidade enorme de recursos e de medidas protelatórias
que só servem para emperrar a Justiça e livrar a cara de criminosos.
A tragédia do Bateau Mouche,
por exemplo, onde 55 pessoas morreram na baía da Guanabara, completou 20 anos sem que ninguém
tenha sido declarado culpado. O crime simplesmente prescreveu.
O caso do desabamento do templo da Igreja Universal em Osasco,
em 1998, onde 25 pessoas morreram, teve o mesmo fim. Foi arquivado sem julgamento.
A lentidão do Judiciário é duplamente cruel. Se, por um lado, auxilia culpados a escapar da punição,
por outro faz com que os injustamente acusados permaneçam anos
e anos com uma espada sobre as
suas cabeças, no aguardo de uma
declaração de inocência.
Estima-se que hoje o país tenha
cerca de 130 mil pessoas que esperam julgamento em prisão preventiva -30% da população carcerária.
Em Estados como Minas Gerais e
Bahia, o número ultrapassa os 70%.
A situação pode começar a mudar
hoje com o início da discussão, na
comissão externa de juristas, da
primeira minuta do anteprojeto do
novo código. Seus membros declararam que um dos grandes objetivos é justamente dar celeridade à
Justiça, o que é fundamental desde
que isso não afete o amplo direito
das pessoas de se defenderem.
Resta saber se o assunto terá a devida atenção dos senadores, hoje
envolvidos na eleição da Mesa Diretora. Afinal, os maus políticos estão
entre os grandes beneficiários desta Justiça que não julga.
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