São Paulo, sábado, 02 de março de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Originalidade

SÃO PAULO - Quem se opõe à chamada verticalização das coligações usa como um dos argumentos centrais a tese de que, em sendo o Brasil um país de fortes desigualdades regionais, não faz sentido exigir uniformidade entre as diferentes seções regionais de um partido ou entre elas e a direção nacional.
Logo, não haveria inconveniente em, digamos, o PT aliar-se ao PFL no Acre, mas lutar até a morte contra ele no Maranhão ou pela Presidência da República.
É uma tese, mas contraria a realidade universal. Exceto, talvez, pelo caso da CSU alemã, braço democrata-cristão na Baviera, não há exemplo de país em que partidos nos Estados (ou seja lá qual for a divisão administrativa em cada país) divirjam, no essencial, de outros ramos estaduais ou da direção nacional.
O que há, em alguns países, são partidos regionais, como o PNV (Partido Nacionalista Vasco), que governa o País Basco (norte da Espanha) desde a redemocratização, faz 25 anos. Mas só funciona e só colhe votos no País Basco. Portanto não pode haver discrepância com o projeto nacional pela simples e boa razão de que não há projeto nacional (nem há outras secções regionais).
Em quase todos os partidos do planeta, há também alas internas, mais à esquerda ou mais à direta, mais liberais ou mais conservadoras. Mas a clivagem não passa pelo regionalismo. Concretamente: um democrata liberal de Ohio pensa mais ou menos como um democrata liberal da Flórida ou da Califórnia.
Alas internas é uma coisa. Outra, completamente diferente, seria, por exemplo, o PFL nacional ser favorável às privatizações, mas o PFL paulista ser contra. Aí, não faz o menor sentido, acho.
Nada impede, é claro, que o Brasil tente ser diferente de todos os países do mundo. Mas é forçoso reconhecer que, no geral, as originalidades brasileiras não se caracterizam propriamente pelos bons resultados.



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