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CARLOS HEITOR CONY
Terra em transe
RIO DE JANEIRO - Mais diferente que um iPod de uma máquina
moedora de carne é o cronista de
um profeta bíblico. De maneira que
a vontade de atribuir as últimas catástrofes naturais seria culpar a iniquidade dos homens que nos obrigou a suportar um dilúvio na Antiguidade e atualmente nos coloca
diante de tragédias como os dois
terremotos quase seguidos no Haiti
e no Chile.
A terra treme (já foi título de um
filme italiano) e, apesar de todos os
avanços da tecnologia humana, a
iniquidade também humana continua provocando catástrofes que
não sabemos (ou não podemos) evitar. Mas nem tudo deve ser levado
em conta da iniquidade.
A lenda bíblica narra o dilúvio
que salvou apenas Noé e um casal
de cada espécie animal. Em Sodoma e Gomorra, foi a chuva de
fogo que acabou com duas sociedades que viviam em pecado diante
do Criador. Houve relação de
causa e efeito.
Tirando o Criador da história, temos realmente uma progressiva
agressão à natureza, mas não a ponto de violentarmos as placas tectônicas que provocam os terremotos
e vulcões. O planeta, como de resto
toda a criação, está condenado à
destruição ou à transformação. É
uma questão de tempo. Outros
mundos já foram destruídos, o próprio Sol um dia se apagará como um
formidável fósforo que consumiu
todo o fogo de suas entranhas. Por
mais que apostemos na tecnologia
humana, ela não salvará o Sol, que
um dia se apagará como outras estrelas se apagaram.
Deixando de lado a lenda ou a
ciência, não adianta procurarmos
vestígio de castigo nas recentes tragédias. Foram catástrofes provocadas pela própria natureza, que tem
suas leis independentes dos pneus
que jogamos nos rios e dos sacos
plásticos que abandonamos nas
praias.
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