São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Terra em transe

RIO DE JANEIRO - Mais diferente que um iPod de uma máquina moedora de carne é o cronista de um profeta bíblico. De maneira que a vontade de atribuir as últimas catástrofes naturais seria culpar a iniquidade dos homens que nos obrigou a suportar um dilúvio na Antiguidade e atualmente nos coloca diante de tragédias como os dois terremotos quase seguidos no Haiti e no Chile.
A terra treme (já foi título de um filme italiano) e, apesar de todos os avanços da tecnologia humana, a iniquidade também humana continua provocando catástrofes que não sabemos (ou não podemos) evitar. Mas nem tudo deve ser levado em conta da iniquidade.
A lenda bíblica narra o dilúvio que salvou apenas Noé e um casal de cada espécie animal. Em Sodoma e Gomorra, foi a chuva de fogo que acabou com duas sociedades que viviam em pecado diante do Criador. Houve relação de causa e efeito.
Tirando o Criador da história, temos realmente uma progressiva agressão à natureza, mas não a ponto de violentarmos as placas tectônicas que provocam os terremotos e vulcões. O planeta, como de resto toda a criação, está condenado à destruição ou à transformação. É uma questão de tempo. Outros mundos já foram destruídos, o próprio Sol um dia se apagará como um formidável fósforo que consumiu todo o fogo de suas entranhas. Por mais que apostemos na tecnologia humana, ela não salvará o Sol, que um dia se apagará como outras estrelas se apagaram.
Deixando de lado a lenda ou a ciência, não adianta procurarmos vestígio de castigo nas recentes tragédias. Foram catástrofes provocadas pela própria natureza, que tem suas leis independentes dos pneus que jogamos nos rios e dos sacos plásticos que abandonamos nas praias.


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