São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

Oposição desfocada

BRASÍLIA - É de dar dó a incapacidade de reação das oposições em Brasília. Mesmo o PT e outros partidos de esquerda eram mais aguerridos e objetivos há 25 anos. Embora frágeis, com bancadas pequenas, sabiam se posicionar. Falavam ao seu público. Tanto é assim que os petistas perseveraram na sua organização interna até chegar ao poder com Lula, em 2003.
Um exemplo da desconexão com a realidade é a ação direta de inconstitucionalidade contra a lei do salário mínimo proposta ontem por PSDB, DEM e PPS. A ideia até parece boa, pois é uma lástima o Congresso outorgar ao Planalto o direito de fixar por decreto o valor do salário mínimo anual até 2015.
Ocorre que há uma controvérsia sobre a Constituição impedir o Congresso de ser pusilânime. A Carta fala apenas em "salário mínimo, fixado em lei", sem advérbio de tempo. O texto aprovado no mês passado só fixa critérios. Na realidade, o Planalto não fica livre para conceder qualquer reajuste. Terá de aplicar uma fórmula matemática inflexível -considerando as variações do PIB e da inflação.
O problema maior desse sistema é a volta da indexação. Em 2012, as previsões indicam, o mínimo terá de pular dos R$ 545 atuais para algo próximo a R$ 620. Se houver um solavanco à vista na economia, Dilma Rousseff estará impedida de aplicar um reajuste menor.
O discurso de PSDB e DEM sempre foi contra a indexação, um crime contra o livre mercado. O maior mérito da hoje oposição foi ter debelado no passado esse mecanismo nefando que retroalimentou a inflação por décadas a fio.
Mas o que disseram tucanos e demistas na ação contra a lei do salário do mínimo? Classificaram a fórmula de indexação automática como "louvável". E foram explícitos: "Os partidos autores [da ação] apoiam esta iniciativa".
Esse é o ponto. A oposição não sabe para qual público falar. Fala para ninguém. Fica sozinha.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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