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FHC bate as asas
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - O presidente Fernando
Henrique Cardoso pretende ir ao Acre
e à Alemanha o mais breve possível.
E daí? E daí que há mais do que simples aviões de carreira entre a viagem
interna e a internacional. Há também
o governador Itamar Franco.
Explica-se:
1) FHC quer ir ao Acre para consolidar sua principal vitória na reunião
de sexta-feira, que foi justamente impedir a formação de uma frente de governadores de oposição;
2) e deve ir à Alemanha para tentar
salvar a credibilidade brasileira, abalada principalmente pela crise nacional, mas também pelo calote mineiro.
No primeiro mandato, FHC visitou
todos os Estados, exceto o Acre. Motivo: o então governador Orleir Cameli,
do PFL e formalmente aliado ao Planalto, não era uma boa companhia.
Tinha uns 30 CPFs, era acusado de sugar o banco estadual, de usar um
Boeing para contrabando e de desviar
verbas públicas para a família.
Hoje, a situação se inverteu. O governador Jorge Viana é do PT e formalmente adversário do Planalto,
mas tem ficha limpa e é defensor do
diálogo governo-oposição.
Na reunião de sexta, Viana disse que
há mais de dez anos um presidente
não pisa no Acre. Esbanjando gentilezas, FHC foi rápido: "Faça a agenda e
marque a data que eu vou".
Quanto à viagem de FHC à Alemanha, a maior pressão vem da Fiemg (a
federação das indústrias de Minas).
A Mercedes investiu dólares e expectativas numa fábrica em Juiz de Fora.
Os empresários mineiros correram
atrás. Agora, entretanto, Itamar
ameaça rever os incentivos, e ninguém
sabe o que vai acontecer.
A nova fábrica deve (ou deveria)
funcionar já a partir deste ano, com
investimentos de US$ 820 milhões e a
previsão de 2.000 empregos diretos e
de até 8.200 indiretos. O impacto na
economia mineira é estimado em
0,27% do PIB. Nada desprezível. Se
Itamar não banca, que FHC o faça.
Conclusão: entre "Oropa", França e
Bahia, FHC pretende também dar um
pulo ao Acre e outro à Alemanha. Entre outras coisas, para se distanciar
definitivamente de Itamar Franco.
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