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JOGO DE ESCONDE-ESCONDE
Nem bem o caseiro sai de cena e
cabe agora a um modesto escrivão da Polícia Federal o papel de
desmascarar mais um dos fragilíssimos expedientes a que se recorre,
nas esferas governistas, sempre que
o objetivo é fugir à verdade e à vigilância da opinião pública.
O episódio teve correrias e ridículos
típicos de um teatro de vaudeville.
Tratava-se de entregar ao presidente
do Sebrae, o sempre esquivo Paulo
Okamotto, uma convocação oficial
para que comparecesse à CPI dos
Bingos, onde se espera sua acareação
com o ex-militante do PT Paulo de
Tarso Venceslau. O escrivão José
Bráulio Rodrigues -a quem, talvez,
valeria recomendar que tomasse providências em defesa de seu sigilo
bancário- bateu às portas do Sebrae; quiseram inicialmente impedi-lo de chegar ao gabinete do intimado. Depois, foi informado que Okamotto estava ausente, em viagem de
trabalho a Minas Gerais.
Não era verdade. O escrivão teve de
voltar ao gabinete para corrigir um
erro protocolar na intimação; e surpreende ninguém menos que o célere Okamotto circulando pelo local.
Conclui-se que a única coisa a aproximar Minas do presidente do Sebrae
é que este também estava onde sempre esteve.
Se o esconde-esconde no Sebrae teve aspectos de comédia de bulevar, o
caso de Antonio Palocci suscita comparações de corte mais clássico. Evite-se, entretanto, classificar como
digna de Molière a cena de um ex-ministro submetendo-se a cuidados
médicos no momento em que seria
intimado pela Polícia Federal. Estaria
com estresse e problemas de pressão. Dada a intensidade da crise que
o abateu, não é essa a mais implausível de suas alegações.
Na obra do comediógrafo francês,
o universo do "Malade Imaginaire" é
bem distinto das santarrices de "Le
Tartuffe"; aqui, o misto de carolice e
de esparrela nos remete à última semana do governo Alckmin. Revelado
pela Folha o uso político nas verbas
de publicidade da Nossa Caixa, o assessor de comunicação do primeiro
mandatário do Estado se viu forçado
a pedir demissão. Um dia antes, confrontado com o escândalo, Alckmin
o respaldara no cargo.
Um relance pelo ambiente da alta-costura completa o quadro. O estilista de Lu Alckmin revelou ter-lhe presenteado com 400 peças de vestuário. Muito menos, retruca a assessoria da ex-primeira-dama; e de todo
modo foram encaminhadas a uma
entidade filantrópica. Só que a instituição não confirma o recebimento
das roupas.
Todos esses episódios têm em comum a força com que desafiam a
credulidade da população; o subterfúgio, a desculpa e o pretexto tornam-se componentes constantes no
cenário político brasileiro. Como na
fábula, há sempre quem aponte que
o rei está nu; das liminares do STF
aos esclarecimentos "ad hoc" de algum assessor, para não falar dos
atos de pura evasão física diante do
assédio da imprensa ou da polícia,
esconder-se, então -mas sem perder o cinismo jamais-, é tudo o que
resta como tática de Estado.
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