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RUY CASTRO
Fim da infância
RIO DE JANEIRO - Outro dia, em
Guarulhos, perto de São Paulo, um
garoto de 12 anos foi flagrado dirigindo um carro numa avenida mal-iluminada, à noite e em hora de movimento. Os pés do garoto mal alcançavam o acelerador e o freio, e
ele quase não enxergava fora do veículo. A tia dele o estaria ensinando.
Poucos dias depois, em Itaquaquecetuba, também na Grande São
Paulo, um menino de três anos entrou num carro sem que sua mãe
percebesse e o pôs acidentalmente
em movimento. O veículo desceu a
rua, subiu a uma calçada e decepou
a perna de uma garota de nove anos
que brincava por ali.
Ainda em São Paulo, um casal foi
preso ao tentar comprar uma menina recém-nascida, filha de uma mulher que dizia não ter recursos para
criá-la. No Rio, um homem também
foi preso por "alugar" o filho de quatro anos por R$ 50 para um traficante, que, de mãos dadas com a
criança, pretendia não despertar
suspeita ao embarcar com maconha na Central do Brasil.
Em Campos, no norte fluminense, uma professora encontrou um
revólver calibre 32, carregado, na
mochila de um menino de dez anos,
seu aluno na 1ª série do fundamental. O garoto disse ter achado a arma
no mato. Em Ribeirão das Neves,
MG, outro garoto, este de três anos,
também foi apanhado andando pela rua com uma arma, um 38 igualmente carregado. O revólver pertencia a seu pai.
Em compensação, em Brasília,
um menino de oito anos, estudante
da 5ª série do fundamental, prestou
vestibular para o curso de direito da
Universidade Paulista, em Goiânia,
e foi aprovado. Claro que ele não
poderá fazer o curso, mas que faculdade é essa cujas provas podem ser
feitas por crianças? Parafraseando
Machado de Assis, no nosso tempo
ainda há jovens, mas são poucos. O
Brasil os torna adultos cedo demais.
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