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KENNEDY ALENCAR
"Meu Bem, Meu Mal"
BRASÍLIA - Em outubro passado,
Dilma Rousseff cantarolou músicas
de Chico Buarque numa entrevista
a Jorge Bastos Moreno, em "O Globo". Ela acabara a parte mais dura
da quimioterapia contra o câncer.
Como acontece nessas peças que a
vida nos prega, a doença a levou a
rever conceitos.
Ela disse a amigos que o calvário
pessoal e os abraços ao povo nas andanças com Lula pelo país permitiram "a redescoberta do próprio
corpo". A mulher durona cedeu algum espaço à emoção, como vimos
nos últimos dias em discursos com
olhos marejados e voz embargada.
Meio em baixa no gosto musical
dos petistas, Caetano Veloso tem
uma música linda que talvez Dilma
devesse escutar. Na doce voz de Gal
Gosta, "Meu Bem, Meu Mal" diz:
"Você é o meu caminho/ Meu vinho, meu vício/ Desde o início estava você". Lá pelas tantas, segue:
"Onde o que eu sou se afoga..."
Lula é o bem e o mal de sua candidata. Surpreende algumas pessoas
o tratamento reverencial que Dilma
dá ao presidente. Com frequência,
refere-se ao chefe apenas como
"ele". Ela fala: "Ele pediu assim",
"ele quer assado". É óbvio que ela
deva ser grata a ele. Mas gratidão
não pode ser confundida com servidão, algo mortal na campanha.
Quando Lula diz que quem quiser
derrotá-lo terá de trabalhar muito,
coloca-se na posição de candidato.
Diminui Dilma. É um risco a tentação de elegê-la como um poste, ficando com os créditos de vitória
numa façanha plebiscitária. Até
porque ela não é um poste. Enganam-se os que a veem assim.
Diante de um candidato com o
currículo de José Serra, será pouco
posar de seguidora de Lula, dizer
que ele ensinou o caminho. Presidente é número 1. Não é número 2.
A batalha dos royalties fez o governador Sérgio Cabral (PMDB)
acender uma vela para Serra. Coube
ao seu vice, Pezão, prometer ao tucano que a retaguarda dele no Rio
irá além do DEM e do PV.
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