São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2010

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KENNEDY ALENCAR

"Meu Bem, Meu Mal"

BRASÍLIA - Em outubro passado, Dilma Rousseff cantarolou músicas de Chico Buarque numa entrevista a Jorge Bastos Moreno, em "O Globo". Ela acabara a parte mais dura da quimioterapia contra o câncer. Como acontece nessas peças que a vida nos prega, a doença a levou a rever conceitos.
Ela disse a amigos que o calvário pessoal e os abraços ao povo nas andanças com Lula pelo país permitiram "a redescoberta do próprio corpo". A mulher durona cedeu algum espaço à emoção, como vimos nos últimos dias em discursos com olhos marejados e voz embargada.
Meio em baixa no gosto musical dos petistas, Caetano Veloso tem uma música linda que talvez Dilma devesse escutar. Na doce voz de Gal Gosta, "Meu Bem, Meu Mal" diz: "Você é o meu caminho/ Meu vinho, meu vício/ Desde o início estava você". Lá pelas tantas, segue: "Onde o que eu sou se afoga..."
Lula é o bem e o mal de sua candidata. Surpreende algumas pessoas o tratamento reverencial que Dilma dá ao presidente. Com frequência, refere-se ao chefe apenas como "ele". Ela fala: "Ele pediu assim", "ele quer assado". É óbvio que ela deva ser grata a ele. Mas gratidão não pode ser confundida com servidão, algo mortal na campanha.
Quando Lula diz que quem quiser derrotá-lo terá de trabalhar muito, coloca-se na posição de candidato. Diminui Dilma. É um risco a tentação de elegê-la como um poste, ficando com os créditos de vitória numa façanha plebiscitária. Até porque ela não é um poste. Enganam-se os que a veem assim.
Diante de um candidato com o currículo de José Serra, será pouco posar de seguidora de Lula, dizer que ele ensinou o caminho. Presidente é número 1. Não é número 2.

 


A batalha dos royalties fez o governador Sérgio Cabral (PMDB) acender uma vela para Serra. Coube ao seu vice, Pezão, prometer ao tucano que a retaguarda dele no Rio irá além do DEM e do PV.


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