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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
Saídas
Saídas na sucessão presidencial
de 2006? Defino como saídas as soluções sucessórias que resultem na tomada do poder por projeto que bote o
Brasil para trabalhar e para aprender,
fazendo os interesses do trabalho e da
produção prevalecerem sobre os interesses financeiros, baseando novo ciclo de desenvolvimento em democratização de oportunidades de ensino e
de trabalho e livrando a política da
sombra corruptora do dinheiro.
Enumero em seguida, sem paixão
ou preconceito, as seis saídas que
identifico. Pena que, sendo o mundo e
o Brasil o que são, as mais promissoras não sejam as mais fáceis.
Entre as saídas não incluo a eleição
do atual pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Por maiores que sejam
suas virtudes, guia-se ele por apoios,
conselheiros e convicções comprometidos com a continuidade da trajetória
que nos deu 25 anos de estagnação e
mediocridade. Das saídas também excluo a simples reeleição de um Lula
determinado a prosseguir na mesma
direção. Há, contudo, uma diferença
relevante entre Alckmin e Lula: aquele, por crença, não faria o que este só
não fez por cautela e temperamento.
A primeira saída é que Lula seja reeleito e que mude de rumo. Nada nas
circunstâncias brasileiras ou mundiais impede que se abra essa saída, a
não ser aquilo que é sempre menos
acessível: a mudança do indivíduo, de
sua maneira de ver e de tratar o mundo em que atua. Há, porém, razões
-muitas razões- que poderiam levar o presidente reeleito a tomar sua
reeleição como oportunidade para dedicar novo mandato a novo caminho,
resgatando os compromissos em nome dos quais foi eleito em 2002.
A segunda saída é que, em algum
momento durante eventual segundo
mandato, Lula seja impedido ou renuncie e José Alencar, reeleito vice
presidente, assuma a Presidência. Como crítico do presidente e de seu governo desde o primeiro momento,
quando crítica escasseava, devo dizer
que considero o impedimento às vésperas de eleição remédio perigoso e de
última instância. Depois, porém, tudo
pode acontecer, como demonstra
nossa história contemporânea.
A terceira saída é que Itamar Franco
triunfe na convenção do PMDB e se
eleja presidente da República. É muito
difícil que ganhe a convenção. Se a ganhasse, porém, teria potencial para
ganhar a eleição. E condição e disposição para liderar reorientação do rumo
nacional.
A quarta saída é que seja Anthony
Garotinho vitorioso na convenção do
PMDB e na eleição presidencial. Tem
mais chance do que Itamar de ganhar
a convenção e menos chance do que
ele de ganhar a eleição. A bem da verdade, é preciso dizer que Garotinho é
o único dos pré-candidatos de qualquer partido que já deu idéia clara de
proposta transformadora, ainda que
eu discorde de muitos elementos dela,
tanto pelo que contém como pelo que
exclui.
A quinta saída é que Alckmin venha
a ser substituído por José Serra e que
este se eleja, disposto a pôr fim à política antidesenvolvimentista que está há
muito tempo no poder. Substituição
penosa, exigiria que o substituto trocasse o relativamente seguro pelo
muito inseguro.
A sexta saída é que as verdadeiras
oposições se unam em torno de um
candidato, conhecido ou desconhecido, contando com o desassombro do
país em encontrar caminho de salvamento. Saída difícil de viabilizar só
por conta da pequenez dos homens,
porém nobre e necessária.
Saídas não faltam. O que falta é clareza para vê-las. E desprendimento e
audácia para desbravá-las.
Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nessa coluna.
www.law.harvard.edu/unger
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