São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2006

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ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Saídas

Saídas na sucessão presidencial de 2006? Defino como saídas as soluções sucessórias que resultem na tomada do poder por projeto que bote o Brasil para trabalhar e para aprender, fazendo os interesses do trabalho e da produção prevalecerem sobre os interesses financeiros, baseando novo ciclo de desenvolvimento em democratização de oportunidades de ensino e de trabalho e livrando a política da sombra corruptora do dinheiro.
Enumero em seguida, sem paixão ou preconceito, as seis saídas que identifico. Pena que, sendo o mundo e o Brasil o que são, as mais promissoras não sejam as mais fáceis.
Entre as saídas não incluo a eleição do atual pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. Por maiores que sejam suas virtudes, guia-se ele por apoios, conselheiros e convicções comprometidos com a continuidade da trajetória que nos deu 25 anos de estagnação e mediocridade. Das saídas também excluo a simples reeleição de um Lula determinado a prosseguir na mesma direção. Há, contudo, uma diferença relevante entre Alckmin e Lula: aquele, por crença, não faria o que este só não fez por cautela e temperamento.
A primeira saída é que Lula seja reeleito e que mude de rumo. Nada nas circunstâncias brasileiras ou mundiais impede que se abra essa saída, a não ser aquilo que é sempre menos acessível: a mudança do indivíduo, de sua maneira de ver e de tratar o mundo em que atua. Há, porém, razões -muitas razões- que poderiam levar o presidente reeleito a tomar sua reeleição como oportunidade para dedicar novo mandato a novo caminho, resgatando os compromissos em nome dos quais foi eleito em 2002.
A segunda saída é que, em algum momento durante eventual segundo mandato, Lula seja impedido ou renuncie e José Alencar, reeleito vice presidente, assuma a Presidência. Como crítico do presidente e de seu governo desde o primeiro momento, quando crítica escasseava, devo dizer que considero o impedimento às vésperas de eleição remédio perigoso e de última instância. Depois, porém, tudo pode acontecer, como demonstra nossa história contemporânea.
A terceira saída é que Itamar Franco triunfe na convenção do PMDB e se eleja presidente da República. É muito difícil que ganhe a convenção. Se a ganhasse, porém, teria potencial para ganhar a eleição. E condição e disposição para liderar reorientação do rumo nacional.
A quarta saída é que seja Anthony Garotinho vitorioso na convenção do PMDB e na eleição presidencial. Tem mais chance do que Itamar de ganhar a convenção e menos chance do que ele de ganhar a eleição. A bem da verdade, é preciso dizer que Garotinho é o único dos pré-candidatos de qualquer partido que já deu idéia clara de proposta transformadora, ainda que eu discorde de muitos elementos dela, tanto pelo que contém como pelo que exclui.
A quinta saída é que Alckmin venha a ser substituído por José Serra e que este se eleja, disposto a pôr fim à política antidesenvolvimentista que está há muito tempo no poder. Substituição penosa, exigiria que o substituto trocasse o relativamente seguro pelo muito inseguro.
A sexta saída é que as verdadeiras oposições se unam em torno de um candidato, conhecido ou desconhecido, contando com o desassombro do país em encontrar caminho de salvamento. Saída difícil de viabilizar só por conta da pequenez dos homens, porém nobre e necessária.
Saídas não faltam. O que falta é clareza para vê-las. E desprendimento e audácia para desbravá-las.


Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nessa coluna.
www.law.harvard.edu/unger


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