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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Lula dos ventos e a tempestade dos juros
RODRIGO MAIA
O país está entrando numa grave crise e as lideranças mais qualificadas estão acuadas, sem reagir aos sinais de tempestade
COMO TODA biruta -aquele saco cônico que indica a direção
dos ventos nos aeroportos-,
Lula não faz opções, deixa-se levar.
E como é excelente animador de
comícios (como sua ministra Dilma
classifica suas falsas inaugurações
diárias para aparecer no "Jornal Nacional", embora não inaugure nada),
explora cada lufada favorável da economia. Celebra-as como se fosse ele
que tivesse soprado. Como se a bonança das exportações, por exemplo,
tivesse sido produzida pelas ações e
providências do seu governo, quando
ele nada teve com isso.
Seus marqueteiros criaram-lhe a
imagem de Éolo, o senhor dos ventos
da mitologia grega, perfeito para uma
biruta: por mais que se contradiga,
que celebre hoje o que condenou ontem, ninguém o contesta.
Quem ousa enfrentar o deus da popularidade, reinando no alto do topo
das pesquisas e comprando sem regatear as adesões políticas pelos preços
que elas exigem?
Moral da história: o país está entrando numa grave crise -denunciada pelo próprio Banco Central, ao aumentar os juros em proporções que
indicam profundo pessimismo- e as
lideranças mais qualificadas estão
acuadas, sem reagir aos evidentes sinais de tempestade.
Todos se sentem ameaçados pela
feitiçaria populista e temem o risco de
serem apontados como profetas da
catástrofe, enquanto a biruta Lula insiste em que está tudo bem, muito
bem, bem, bem. Nem indicadores extremamente populares e sensíveis
-como o preço do pãozinho francês-
impressionam.
Porém, enquanto os barômetros
indicam a aproximação de tempestades, verifica-se que estamos absolutamente despreparados para enfrentar
tais ameaças. Despreparados e imobilizados pelo conformismo.
Ou ninguém percebeu que o Banco
Central elevou a taxa de juros para esfriar o ânimo do setor privado e controlar a inflação, já que o governo não
faz a sua parte e o espaço para crescimento do setor privado diminui? A
contabilidade nacional é inescapável.
Dado o PIB, se o governo cresce, com
o avanço leonino dos gastos públicos,
o setor privado é obrigado a atuar em
um ambiente cada vez mais adverso.
São poucos ou mesmo inexistentes
os méritos da política econômica do
governo Lula para explicar o atual ciclo de crescimento, agora ameaçado.
As próprias modificações na área de
crédito foram gestadas no governo de
Fernando Henrique Cardoso.
Se algum mérito existe, ele reside
no fato de que, além da sorte, Lula fez
funcionar seu lado biruta e assumiu
os ventos que não soprou. Em poucas
ocasiões houve uma conjunção de fatores externos e domésticos tão favoráveis ao crescimento.
Externamente, a fase áurea de crescimento mundial, que agora parece se
esvair. Internamente, destacam-se os
bons fundamentos deixados pelo governo anterior. Essa história de herança maldita não passa de um mito
utilizado em discursos políticos do
PT e de seus aliados. Melhor seria
chamá-la de herança bendita.
Já a economia mundial favorece a
economia doméstica pelo aumento
da procura por produtos brasileiros
de exportação em quantidades físicas
que impulsionam os preços das commodities. O Brasil se beneficia como
grande produtor de bens primários
(como soja, açúcar e minério de ferro)
demandados pelo resto do mundo.
A fase áurea de crescimento mundial (que eleva também a demanda
por produtos semi e manufaturados)
foi a grande responsável pelo "boom"
de crescimento das exportações.
O espetacular crescimento de economias pobres e extremamente populosas, como China e Índia, significa
que mais gente (muito mais gente) está ingerindo maior quantidade de calorias e proteínas diariamente.
Enquanto isso, remando contra a
maré favorável, o que faz o governo
Lula? Faz crescer os gastos correntes,
exaurindo a capacidade de investimento do governo. Apesar de todo o
alarido com o PAC, as perspectivas
para a infra-estrutura produtiva do
país permanecem desalentadoras,
destacando-se o setor elétrico.
Nossas escolas, especialmente nos
níveis fundamental e médio, continuam preparando muito mal os jovens para o mercado de trabalho. Os
serviços públicos de saúde sofreram
incontestável retrocesso e o déficit da
Previdência cresce, gerando um grandioso e injusto passivo para ser quitado pelas gerações futuras.
Não se trata de apregoar catastrofismos, mas de abandonar o conformismo com a precária fantasia lulista.
RODRIGO MAIA, 37, é deputado federal pelo DEM-RJ e
presidente nacional do seu partido.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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