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CLÓVIS ROSSI
Jack e a gripe suína
SÃO PAULO - Um estraga-prazeres chamado Andrew Cook, historiador britânico, está dinamitando
a lenda de Jack, o Estripador. Diz
que não passou de uma invenção
para vender mais jornais.
É o que relata o "Times" de ontem, com base no livro "Jack, o Estripador: Caso Encerrado".
Nele, Cook afirma taxativamente
que Jack é um personagem de ficção inventado pelos jornalistas e
que os crimes no East End londrino, em 1888, foram obra de diferentes homens, sem nenhuma ligação
entre eles.
O foco principal do livro é o jornal
"The Star", lançado pouco antes de
os assassinatos começarem e que
foi o primeiro a sugerir um "serial
killer". Coincidência ou não, o
"Star" viu sua circulação aumentar
em 232 mil exemplares durante o
período em que noticiou à exaustão
os crimes atribuídos a Jack.
Sou obrigado a confessar que, ao
ler a história do "Times", não consegui deixar de pensar no mais recente "serial killer" a frequentar a
mídia, a tal de gripe suína, agora rebatizada para H1N1.
Com uma ressalva essencial: jornais como esta Folha dependem
quase nada de venda avulsa, ao contrário de tabloides.
Mas um sucessor do "Star", o tabloide "The Sun", vazou ontem relatório (de setembro) do Departamento de Saúde britânico prevendo que, na eventualidade de uma
pandemia, 750 mil pessoas morreriam (só no Reino Unido) e 1,2 milhão seria hospitalizado, levando ao
colapso "total ou parcial" da infraestrutura de saúde.
Quando se sabe que até ontem
apenas dez pessoas haviam morrido -e no mundo todo-, é inevitável o paralelismo entre um "serial
killer" que não existia e um que parece estar sendo exagerado.
Pergunta também inevitável:
quantas pessoas morrem, no mundo, de gripe comum no mesmo período em que morreram as dez vítimas da H1N1?
crossi@uol.com.br
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