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TENDÊNCIAS/DEBATES
A oferta de energia elétrica vai afetar o crescimento econômico brasileiro?
SIM
Para fugir de um novo racionamento
NEWTON DUARTE
A CARÊNCIA de oferta de energia pode afetar negativamente
o crescimento econômico. A
necessidade de um eventual novo racionamento colocaria em risco a recuperação em curso da economia brasileira e inviabilizaria o desejado ciclo
de desenvolvimento sustentado.
Para atingir os objetivos de crescimento sustentado do PIB a taxas superiores a 4,5% ao ano e evitar um déficit entre a oferta e a demanda de
energia no médio e longo prazos, o
Brasil precisa gerar, pelo menos, quatro gigawatts (GW) ao ano em geração
hidráulica, térmica e demais fontes
renováveis, de forma a expandir a capacidade instalada.
Levando em conta as premissas do
Plano Decenal de Energia Elétrica da
EPE (Empresa de Pesquisa Energética), dos atuais 47,5 GW médios de demanda, atingiremos, em 2011, 61 GW
médios, representando um crescimento médio de 6,5% ao ano, superando assim a previsão de órgãos governamentais quanto ao acréscimo
de geração de apenas 2,9% ao ano no
período. Tal cenário apresenta sérios
riscos de abastecimento energético,
se levarmos em conta a dependência
hídrica do sistema elétrico brasileiro.
Tendo em vista esse cenário, grandes projetos hídricos, como Madeira
e Belo Monte, devem ser priorizados.
Caso contrário, o país terá que buscar
fontes alternativas para suprir a demanda energética. No entanto, vale
ressaltar, essa alternativa implicaria
um aumento relevante do custo da
energia, gerando perda da competitividade da indústria.
Outra grande preocupação é o déficit na oferta de gás natural. Em 2006,
o Brasil teve déficit de 30 milhões de
m3/dia. Esse déficit se intensificaria
para cerca de 66 milhões de m3/dia
em 2015 e só seria minimizado, mas
não totalmente solucionado, com o
incremento significativo da oferta de
gás natural liquefeito (GNL).
Fora da agenda energética do Brasil há muitos anos, a geração de energia a carvão permanece tímida. Segundo o primeiro balanço do PAC, recentemente divulgado pelo governo,
só a usina de Candiota 3 é contemplada. Embora as questões ambientais e
os custos representem barreiras para
essa fonte, o carvão merece atenção
especial pelo potencial que significa
para a aceleração da expansão de
oferta energética e a redução da dependência de fontes hidrelétricas.
A malfadada experiência do racionamento de energia elétrica de 2001
representou impactos significativos
para a economia brasileira. O ritmo
de crescimento do PIB se contraiu de
4,3% em 2000 para apenas 1,3% em
2001. Mais intenso ainda foi o impacto na redução do ritmo de crescimento da produção industrial, que caiu de
6,6% para 1,5% no mesmo período.
O risco de um novo racionamento
pode afetar negativamente as decisões de novos investimentos por parte das empresas, com todos os reflexos negativos decorrentes. Um outro
impacto potencial é o aumento dos
custos de abastecimento energético.
Em suma, o racionamento representaria não só um freio no crescimento
econômico mas também um aumento dos custos da produção industrial.
Enfrentar o problema da oferta de
energia é urgente. Vale destacar, as
medidas de produtividade adotadas
por ocasião do racionamento de 2001
já foram incorporadas aos processos
industriais, o que diminui o potencial
para futuras economias. É preciso garantir a efetiva realização dos investimentos previstos, o que não exclui as
iniciativas de melhoria da eficiência.
É imprescindível tratar com prioridade as soluções eficazes para simplificar os processos de concessão de licenciamento ambiental. A longa maturação dos investimentos exige rapidez nas decisões para ampliar a oferta
de energia e mantê-la sempre à frente
da demanda.
A desoneração dos investimentos
em infra-estrutura é um elemento incentivador das decisões. Da mesma
forma, é fundamental melhorar as
condições de financiamento de projetos e propiciar um ambiente regulatório claro e estável. Não podemos
deixar que o Brasil seja preterido de
um futuro próspero por falta das
ações necessárias e dos investimentos em infra-estrutura. Para progredir, o país precisa reconhecer os desafios presentes e atacá-los na raiz.
NEWTON DUARTE, 52, engenheiro elétrico, é diretor do
Departamento de Infra-Estrutura do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) e diretor de Energia e
Transporte da Siemens.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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