São Paulo, segunda-feira, 02 de junho de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O modelo de gestão da Copa de 2014

RICARDO TEIXEIRA


Quero deixar consignado que todo o processo da Copa será conduzido com a maior seriedade, dentro de princípios claros


TENHO DITO e repetido inúmeras vezes que defendo um modelo para a Copa do Mundo no Brasil com viés predominantemente privado. O que isso significa na prática? Começa pelo custeio do próprio Comitê Organizador da Copa, que não receberá um único centavo de dinheiro público.
Todas as despesas do comitê serão bancadas com aportes feitos direta e exclusivamente pela Fifa. A entidade já definiu um montante de cerca de US$ 500 milhões de seu orçamento e fixou um cronograma de desembolso para fazer face ao funcionamento do comitê brasileiro até o fim da Copa.
Caberá a esse comitê atuar como uma espécie de "agência regulatória" da Fifa no Brasil, acompanhando o cumprimento de prazos, os aperfeiçoamentos legais necessários ao evento, assim como todo o complexo planejamento nas inúmeras áreas, desde a segurança até o marketing.
Todos os recursos transferidos ao Comitê Organizador serão objeto de auditoria internacional da Fifa, assim como de fiscalização por empresa de alta credibilidade a ser contratada pelo comitê, garantindo assim um ambiente de governança corporativa dentro dos mais elevados padrões.
A rigor, o comitê não será custeado nem mesmo com recursos de empresas brasileiras, ainda que privadas. Empresas interessadas em adquirir direitos de propriedade terão de firmar contratos e fazer pagamentos diretamente à Fifa. O Comitê Organizador funcionará como órgão auxiliar e de assessoramento nas negociações. Qual será então o papel do Estado?
Eu diria que fundamental, pois caberá aos governos atuar nos setores tipicamente governamentais, fazendo intervenções que elevem a qualidade de serviços, como transporte, saúde, energia. Enfim, melhorando a infra-estrutura como um todo.
Em países que sediaram Copas e tiraram o melhor proveito delas, os governos atuaram sobretudo antecipando obras que já estavam previstas, para que pudessem estar prontas e servir aos objetivos do evento. Portanto, Copa não significa aumento de despesas públicas, mas apenas a antecipação de projetos já definidos.
Em uma Copa, os recursos públicos devem ser utilizados para deixar um legado de benefícios e realizações permanentes para o país. Esse, a meu ver, ao lado da exposição mundial do Brasil e da movimentação na economia interna, é o grande ganho que uma Copa pode ensejar, pois deixa uma herança de melhorias palpáveis para a população ao final do processo. Todos esses investimentos públicos estarão sujeitos aos inúmeros mecanismos de fiscalização já existentes.
É preciso destacar que o Comitê Organizador não terá nenhuma ingerência sobre a escolha de fornecedores estatais ou a contratação de obras públicas. O papel do comitê ficará restrito ao acompanhamento dos prazos e à atestação de que essas iniciativas estão em conformidade com os padrões da Fifa.
Para encerrar, gostaria de ressaltar três aspectos. O primeiro diz respeito aos critérios de escolha das cidades-sedes. Tudo o que a CBF podia fazer já foi feito: indicar as candidatas à Fifa.
A partir de agora, torço para que cada cidade faça seu melhor e apresente as melhores propostas. As escolhas não serão políticas e levarão em conta os aspectos mais relevantes em cada localidade. O anúncio das escolhidas deve ocorrer até março de 2009.
O segundo aspecto é que mesmo aquelas cidades que não se tornarem sedes terão uma participação muito efetiva na Copa. Essa, aliás, é a grande característica desse evento, sobretudo quando comparado a uma Olimpíada: a Copa mobiliza um país inteiro, e não apenas uma cidade.
Cito o exemplo do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que decidiu não apresentar a candidatura do Estado. Para ele, a melhor opção é tentar no futuro hospedar uma seleção de primeira linha nas semanas antes da Copa. "Fiz todos os cálculos e achei que era a melhor relação custo/benefício", disse-me o governador. Outro exemplo de criatividade pode estar nos modelos previstos para os estádios. Brasília, por exemplo, está fazendo uma proposta em que o novo estádio não absorverá nenhum recurso público.
Por fim, quero deixar aqui consignado que todo o processo da Copa será conduzido com a maior seriedade, dentro de princípios claros. A equipe do comitê será formada por um corpo técnico de profissionais do mais alto nível, em suas respectivas áreas de atuação. O critério será o do profissionalismo e o da correção. Nenhum estranho esteve, está ou estará autorizado a falar em nome do comitê. Não existirá nenhum tipo de informalidade. O comitê estará sempre aberto para prestar os esclarecimentos necessários, de forma transparente e direta, a todos os segmentos envolvidos na realização desse grandioso evento.


RICARDO TEIXEIRA é presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e do Comitê Organizador da Copa de 2014 no Brasil.

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