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Editoriais
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Propaganda enganosa
A PUBLICIDADE oficial, em
todos os níveis da administração, não raro é empregada em benefício pessoal do
ocupante do cargo. Sob a desculpa de prestar contas à população
e divulgar iniciativas de interesse público, serve de ordinário ao
propósito de lustrar a imagem do
governante.
Não é outra a razão para tais
gastos aumentarem em período
pré-eleitoral, como agora, a mais
de um ano do próximo pleito. O
presidente Lula apenas dá continuidade à tradição. A Secretaria
de Comunicação Social da Presidência (Secom) prevê gastar em
2009 R$ 155 milhões, 26% mais
que o orçado para 2008.
A fatia da Secom, porém, representa só 10,6% do gasto total
com publicidade das administrações direta e indireta: a fatura toda foi de R$ 1 bilhão em 2008,
dentro da média do governo Lula
e próxima da observada nos cinco últimos anos de FHC (R$ 957
milhões, em valores corrigidos).
Na trilha do aumento segue
também o governador de São
Paulo, José Serra (PSDB), com
dispêndio total de R$ 227 milhões (mais 44%) neste ano. O
prefeito paulistano, Gilberto
Kassab (DEM), que não se declara candidato em 2010, deu salto
de 134%, para R$ 79 milhões.
Lula inova, no entanto, ao pulverizar esse dispêndio posto sob
controle direto do Planalto por
iniciativa de Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), mas que terminou por beneficiar seu sucessor
(antes, campanhas de interesse
da Presidência eram encomendadas a ministérios ou estatais).
Desde o primeiro ano do governo
Lula, multiplicou-se por mais de
dez o número de veículos regados com o maná presidencial: de
499 em 2003 a 5.297 em 2008.
É mais que óbvio o poder de
alavancagem eleitoral da distribuição entre veículos locais e regionais. Quanto menor o órgão
de imprensa e mais afastado dos
mercados competitivos, tanto
mais vulnerável à dependência
de anúncios estatais.
Pulverizar ou concentrar o
gasto, por outro lado, constitui
só uma estratégia. O absurdo está na existência dessa verba para
autopromoção. Enquanto o contribuinte não reagir, seu dinheiro continuará a ser desperdiçado
para ludibriá-lo, ainda que a pretexto de esclarecê-lo.
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