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LUIZ FERNANDO VIANNA
Silêncio no Alemão
RIO DE JANEIRO - Na última
sexta-feira, o presidente Lula e o
governador do Rio, Sérgio Cabral,
se abraçaram muito carinhosamente no complexo de favelas de Manguinhos e, à tarde, foram ao Complexo do Alemão. Entregaram 56
apartamentos para moradores removidos de suas casas em razão das
obras do PAC.
Na véspera, o governo federal
também marcara presença no Rio.
O ministro da Secretaria Especial
dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, lançou na Biblioteca Nacional o livro "Brasil - Direitos Humanos", um conjunto de artigos, entrevistas e reportagens.
Na página 264, recorda-se o que
aconteceu no Alemão em 27 de junho de 2007: 1.350 homens das Polícias Civil e Militar (de Cabral) e da
Força Nacional de Segurança (de
Lula) entraram na área da Grota e
mataram 19 pessoas. É possível que
a maioria fosse traficante e estivesse em confronto, mas não há como
ter certeza: não houve perícia no local e, de acordo com o livro, provas
foram destruídas pela polícia.
Três peritos examinaram os corpos na época e produziram para a
Secretaria dos Direitos Humanos
um relatório. Apresentaram "argumentos para embasar a afirmação
de existência de execução sumária
e arbitrária", entre eles o "grande
número de orifícios de entrada na
região posterior do corpo, numerosos ferimentos em regiões letais,
elevada média de disparos por vítima, proximidade de disparos, sequência de disparos em rajada e armas diferentes utilizadas numa
mesma vítima". Dos 78 tiros encontrados nos 19 corpos, 32 foram pelas costas.
Sempre que Lula e Cabral fossem
ao Alemão, deveriam explicar como
aquela operação contribuiu para
dar paz às favelas. As crianças da
Grota que ainda falam dos momentos de pavor que viveram naquele
27 de junho gostariam de ouvi-los.
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