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CLÓVIS ROSSI
2004 não é 2006
SÃO PAULO - Os jornalistas temos o hábito de decretar que as eleições
municipais são uma espécie de prévia
do pleito nacional que tem se dado
dois anos depois. Erramos quase
sempre.
A melhor demonstração foi a eleição de Luiza Erundina, então no PT,
para a Prefeitura de São Paulo, em
1988, o ano em que o PT explodiu no
cenário eleitoral. Pois bem, no ano seguinte, o mais antipetista dos candidatos, Fernando Collor de Mello,
venceu a eleição presidencial.
Agora, certamente vamos dizer que
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT terão vencido se Marta Suplicy for reeleita ou terão perdido se
ela for derrotada. Não é uma avaliação inteiramente incorreta, mas tampouco é inteiramente correta.
Eleição raramente se decide por
conta de um único fator. E, no caso
do pleito paulistano deste ano, os
quatro principais candidatos têm
personalidade própria e, por extensão, geram amores e ódios suficientes
para não depender dos amores e
ódios devotados a seus líderes nacionais para ganhar ou perder.
Ou simplificando: Marta, se ganhar, o fará mais por sua própria figura e gestão do que pelo empréstimo
de votos do presidente. Se perder, vale
o raciocínio inverso. Lula terá ajudado a perder, claro, mas a cota pessoal
de Marta, na vitória como na derrota, tende a ser bem maior.
Pode-se dizer tranqüilamente o
mesmo de José Serra, Paulo Maluf e
Luiza Erundina. Aliás, recente pesquisa Datafolha mostrou, cientificamente, o que estou dizendo intuitivamente: o fato de Lula apoiar Marta
tem baixa correspondência com a intenção de voto na prefeita, a favor ou
contra. Da mesma forma, o fato de o
governador Geraldo Alckmin apoiar
Serra muda poucos votos (se a pesquisa tivesse incluído o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, o resultado não se alteraria).
É claro que, apurados os votos, vai
haver um baita ruído para "federalizar" o resultado. É inevitável e tem
até uma certa razão. Mas 2004 não
antecipa uma vírgula do que acontecerá em 2006.
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