São Paulo, sexta-feira, 02 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

2004 não é 2006

SÃO PAULO - Os jornalistas temos o hábito de decretar que as eleições municipais são uma espécie de prévia do pleito nacional que tem se dado dois anos depois. Erramos quase sempre.
A melhor demonstração foi a eleição de Luiza Erundina, então no PT, para a Prefeitura de São Paulo, em 1988, o ano em que o PT explodiu no cenário eleitoral. Pois bem, no ano seguinte, o mais antipetista dos candidatos, Fernando Collor de Mello, venceu a eleição presidencial.
Agora, certamente vamos dizer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT terão vencido se Marta Suplicy for reeleita ou terão perdido se ela for derrotada. Não é uma avaliação inteiramente incorreta, mas tampouco é inteiramente correta.
Eleição raramente se decide por conta de um único fator. E, no caso do pleito paulistano deste ano, os quatro principais candidatos têm personalidade própria e, por extensão, geram amores e ódios suficientes para não depender dos amores e ódios devotados a seus líderes nacionais para ganhar ou perder.
Ou simplificando: Marta, se ganhar, o fará mais por sua própria figura e gestão do que pelo empréstimo de votos do presidente. Se perder, vale o raciocínio inverso. Lula terá ajudado a perder, claro, mas a cota pessoal de Marta, na vitória como na derrota, tende a ser bem maior.
Pode-se dizer tranqüilamente o mesmo de José Serra, Paulo Maluf e Luiza Erundina. Aliás, recente pesquisa Datafolha mostrou, cientificamente, o que estou dizendo intuitivamente: o fato de Lula apoiar Marta tem baixa correspondência com a intenção de voto na prefeita, a favor ou contra. Da mesma forma, o fato de o governador Geraldo Alckmin apoiar Serra muda poucos votos (se a pesquisa tivesse incluído o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o resultado não se alteraria).
É claro que, apurados os votos, vai haver um baita ruído para "federalizar" o resultado. É inevitável e tem até uma certa razão. Mas 2004 não antecipa uma vírgula do que acontecerá em 2006.


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