|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES
Um sistema brasileiro para a TV digital
DILMA ROUSSEFF, CELSO AMORIM, GUIDO MANTEGA, LUIZ FERNANDO FURLAN, HÉLIO COSTA e SERGIO MACHADO REZENDE
O padrão escolhido pelo governo federal mantém as características da televisão brasileira, aberta e gratuita para toda a população
UM DEBATE QUE se estendeu
por dez anos no Brasil teve um
capítulo concluído na última
quinta-feira, 29 de junho, com resultados positivos para toda a sociedade
brasileira. O presidente Lula assinou
o decreto que define o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre
(SBTVD-T) e estabelece as diretrizes
para a transição do sistema de analógico para digital.
Muitos países implantaram nos últimos anos sistemas digitais, que têm
inúmeras vantagens sobre os analógicos, como maior imunidade a ruído e
melhor reprodução. Porém, sua
maior vantagem é utilizar a forma de
processamento dos computadores,
permitindo que as tecnologias de TV,
rádio e telefone celular convirjam para as dos computadores.
Existem no Brasil 43 milhões de
domicílios com cerca de 54 milhões
de aparelhos de TV fixos, com tecnologia analógica. Recentemente, o
mercado de telefones celulares se expandiu de forma imprevisível: há hoje
cerca de 85 milhões em uso no país.
No futuro, cada celular poderá ser
uma unidade de TV móvel.
Estima-se que estão em jogo negócios de ao menos R$ 100 bilhões -investimentos a serem feitos num período de 5 a 10 anos na adequação ou
substituição de televisores analógicos, celulares e aparelhos portáteis
com TV, nos sistemas de transmissão
e na produção de conteúdo.
A implantação da TV digital começou a ser considerada no Brasil em 96,
mas o governo anterior não tomou a
decisão sobre o sistema a ser adotado.
Partindo da premissa de valorizar o
conhecimento e a capacidade de produção nacionais, em novembro de
2003 o presidente Lula assinou decreto instituindo o SBTVD-T e determinando a mobilização de pesquisadores para estudar os aspectos envolvidos na adoção da nova tecnologia.
Também estabeleceu as diretrizes
para o sistema: acessibilidade por
parte de toda a população; inclusão
social; preservação da identidade nacional nos meios de comunicação de
massa; fortalecimento da cadeia produtiva de televisão, compreendendo,
entre outros, as empresas de radiodifusão e de criação de conteúdos, equipamentos e software.
Cerca de 1.400 cientistas e técnicos,
distribuídos em 22 consórcios formados por 90 entidades de pesquisa e
empresas, estudaram durante dois
anos os padrões de TV digital implantados no mundo (o japonês, o europeu e o norte-americano) e as opções
para o SBTVD-T, financiados pelos
ministérios das Comunicações e da
Ciência e Tecnologia.
Com base nesses estudos e em consultas a representantes de diversos
segmentos da sociedade -empresas
difusoras de TV e de telefonia, indústrias do setor eletrônico e discussões
realizadas no Congresso e em fóruns
diversos-, o governo definiu as características do SBTVD-T. Ele não é
igual a nenhum dos três padrões existentes: é o mais avançado de todos.
A transmissão de TV digital no Brasil será feita pelo sistema de modulação do padrão japonês, com componentes exclusivos criados no Brasil ou
desenvolvidos após a implantação
dos demais sistemas. O SBTVD-T
mantém as características da TV brasileira, aberta e gratuita para toda a
população, podendo ser captada por
receptores fixos ou portáteis. O sistema de modulação japonês é o único
que, atualmente, permite transmitir
imagens com a mesma qualidade, em
um só canal, como utilizado no Brasil.
A decisão sobre a adoção do sistema
de modulação do SBTVD-T foi precedida de intensas negociações com o
governo e as indústrias do Japão. Isso
porque a implantação da TV digital
no Brasil abre a possibilidade de revigorar a indústria eletrônica do país,
dentro dos objetivos da Política Industrial, Tecnológica e de Comércio
Exterior do governo federal.
O acordo assinado entre o Brasil e o
Japão prevê parcerias entre centros
de pesquisa e empresas dos dois países, como também a incorporação de
tecnologias aqui desenvolvidas no
sistema japonês. E o Brasil já tem discutido com nossos vizinhos para que
a configuração final do sistema seja
comum ao Mercosul ampliado.
O SBTVD-T possibilitará, ainda, a
implantação de mais quatro canais
públicos de televisão, com programação sobre educação, cultura, cidadania e atos de governo, seja federal, estadual ou municipal. Trata-se de reivindicação de entidades defensoras
da democratização dos meios de comunicação, viabilizada com a adoção
do novo sistema.
Os desafios para a indústria nacional de eletrônica, para os pesquisadores, produtores culturais e difusoras
de TV estão apenas começando, pois
o novo sistema irá revolucionar os
meios de transmissão de imagens e de
comunicação. Mas eles serão vencidos com a determinação e a criatividade de nossa gente.
DILMA ROUSSEFF, ministra-chefe da Casa Civil, CELSO AMORIM, ministro das Relações Exteriores, GUIDO MANTEGA, ministro da Fazenda, LUIZ FERNANDO FURLAN, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior, HÉLIO COSTA, ministro das Comunicações, e
SERGIO MACHADO REZENDE, ministro da Ciência e Tecnologia.
Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Francisco de Oliveira: Cai o pano, cai a máscara Índice
|