São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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KENNETH MAXWELL

Madoff

NA SEGUNDA-FEIRA , em um tribunal federal de Manhattan, o juiz de primeira instância Denny Chin sentenciou Bernard Madoff a 150 anos de prisão. Era o máximo que a lei permitia para as 11 acusações nas quais o empresário admitiu ser culpado.
Madoff foi condenado por perpetrar uma fraude avaliada em cerca de US$ 65 bilhões. O juiz Chin afirmou que, "em termos objetivos, a fraude que temos aqui é inacreditável". A sentença de Madoff, ele declarou, refletia ao menos três razões: castigo, dissuasão e justiça para as vítimas. "É preciso enviar a mensagem de que os crimes de Madoff foram extraordinariamente malévolos."
O antigo "administrador de fundos", de 71 anos, evidentemente se tornou um símbolo da ganância e dos excessos dos anos de boom financeiro. Mas resta o fato de que, até o começo de dezembro do ano passado, quando seu esquema fraudulento começou a se desmantelar, Madoff era considerado um pilar da elite financeira.
Foi essa posição que lhe deu a liberdade para persistir por tanto tempo. Afinal, ele havia sido presidente da bolsa de valores Nasdaq. A escala de sua queda é um indicador das dimensões atingidas por sua passada reputação como financista que garantia retornos firmes e elevados aos seus investidores.
E esses investidores incluíam alguns dos maiores bancos do mundo, como o Santander e o Royal Bank of Scotland; muitas celebridades, entre as quais Steven Spielberg e Jeffrey Katzenberg, da Dreamworks; muitas fundações, tais como a de Elie Wiesel, laureado com o Nobel da Paz, e Mortimer Zuckerman, dono dos jornais "New York Daily News" e "US News and World Report", além de milhares de outros indivíduos, entre os quais a atriz Zsa Zsa Gabor, 91. Entre os maiores prejudicados estão membros da comunidade judaica em Nova York, Palm Beach e Denver, que confiavam em Madoff como correligionário.
O fato de que Madoff estava despindo um santo para vestir outro não era desconhecido. Muita gente suspeitava, e algumas pessoas tinham certeza, de que ele operava um gigantesco esquema Ponzi.
Harry Markopoulos, um investigador de fraudes de Boston, alertou por cinco vezes, entre 2000 e abril de 2008, o órgão de fiscalização do setor de valores mobiliários dos Estados Unidos, a Securities and Exchange Commission (SEC), quanto ao que estava acontecendo, com análises detalhadas sobre o funcionamento do esquema. Mas seus alertas foram ignorados.
Ainda que a condenação de Madoff seja digna de nota, uma conclusão inescapável a extrair do escândalo que o envolveu é que a agência federal norte-americana encarregada de proteger os investidores fracassou em sua missão.


KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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