São Paulo, quarta-feira, 02 de agosto de 2006

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CLÓVIS ROSSI

30, 90, 116, 90%

SÃO PAULO - Na sua coluna de sábado, Fernando Gabeira perguntava: "A decadência do Parlamento brasileiro é irreversível até a mais completa putrefação?".
Já apodreceu, Gabeira, já apodreceu. O caso dos sanguessugas é a prova final e definitiva, com seu jogo de números. Ora são apenas 30, ora são 90, ora mais de 100. Não importa. Importa o fato de que qualquer número seria verossímil aos olhos do público. Se, em vez de 90, surgissem 300 ou 400 nomes, seria igualmente verossímil porque, para a grande maioria do público, todo político é ladrão.
Pior ainda: qualquer número, por elevado que seja, é aceito com naturalidade também pelo mundo político. Estão envolvidos nomes de praticamente todos os grandes partidos e até de alguns pequenos. No entanto, nenhum deles, que eu tenha lido, fez escândalo, protestando inocência de seus quadros até prova em contrário.
Dá a nítida sensação de que, mesmo sem provas, há, mesmo no mundo político ou mais ainda no mundo político, a sensação de que, se alguns são eventualmente inocentes, poderiam perfeitamente ser culpados porque o trambique é generalizado. Prova-o a afirmação do corruptor, o pessoal da Planam, de que "90% do Congresso está à venda".
Ou, posto de outra forma, a falta dos habituais protestos de inocência pelos partidos pode ser manifestação de alívio, porque mesmo as listas mais extensas de acusados estão muito longe de cobrir 90% do Congresso.
Em uma situação como essa, o mínimo, mas mínimo mesmo, que se pode esperar do eleitorado é que não reeleja nenhum dos acusados. Não adianta o Judiciário eventualmente decidir que envolvidos em maracutaias não podem assumir o mandato. Seria bom, mas é insuficiente. O controle do trambique tem que partir de baixo para cima. Ou será sempre débil.


crossi@uol.com.br

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