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CLÓVIS ROSSI
30, 90, 116, 90%
SÃO PAULO - Na sua coluna de sábado, Fernando Gabeira perguntava: "A decadência do Parlamento
brasileiro é irreversível até a mais
completa putrefação?".
Já apodreceu, Gabeira, já apodreceu. O caso dos sanguessugas é a
prova final e definitiva, com seu jogo de números. Ora são apenas 30,
ora são 90, ora mais de 100. Não importa. Importa o fato de que qualquer número seria verossímil aos
olhos do público. Se, em vez de 90,
surgissem 300 ou 400 nomes, seria
igualmente verossímil porque, para
a grande maioria do público, todo
político é ladrão.
Pior ainda: qualquer número, por
elevado que seja, é aceito com naturalidade também pelo mundo político. Estão envolvidos nomes de
praticamente todos os grandes partidos e até de alguns pequenos. No
entanto, nenhum deles, que eu tenha lido, fez escândalo, protestando inocência de seus quadros até
prova em contrário.
Dá a nítida sensação de que, mesmo sem provas, há, mesmo no
mundo político ou mais ainda no
mundo político, a sensação de que,
se alguns são eventualmente inocentes, poderiam perfeitamente ser
culpados porque o trambique é generalizado. Prova-o a afirmação do
corruptor, o pessoal da Planam, de
que "90% do Congresso está à venda".
Ou, posto de outra forma, a falta
dos habituais protestos de inocência pelos partidos pode ser manifestação de alívio, porque mesmo as
listas mais extensas de acusados estão muito longe de cobrir 90% do
Congresso.
Em uma situação como essa, o
mínimo, mas mínimo mesmo, que
se pode esperar do eleitorado é que
não reeleja nenhum dos acusados.
Não adianta o Judiciário eventualmente decidir que envolvidos em
maracutaias não podem assumir o
mandato. Seria bom, mas é insuficiente. O controle do trambique
tem que partir de baixo para cima.
Ou será sempre débil.
crossi@uol.com.br
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