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TENDÊNCIAS/DEBATES
Gente como a gente
ALENCAR BURTI
O momento é de despertar. Essa é a razão do "Cansei". Como provar que não há interesse político-partidário nesse movimento?
COM O objetivo de despertar a
vontade das pessoas para protestar contra tantos desmandos, foi anunciado na última semana
o Movimento Cívico pelo Direito dos
Brasileiros, o "Cansei". Liderado pela
OAB-SP (seccional paulista da Ordem
dos Advogados do Brasil) e apoiado
por diversas entidades, o primeiro ato
programado será o encontro, no dia
17 de agosto, em frente ao prédio da
TAM Express, em São Paulo.
Nossa intenção é, desde o início,
que a sociedade brasileira seja ouvida.
A data para essa ação foi escolhida por
marcar o primeiro mês do maior desastre aéreo do país.
Não é um movimento contra este
ou aquele governo, como insistem
aqueles que em tudo vêem interesses
e possíveis vantagens partidárias.
Tanto é que não estão previstos discursos. E isso também foi decidido
desde as primeiras reuniões.
Na última semana, durante a apresentação das peças publicitárias na
OAB-SP, que podem ser vistas no site
www.cansei.com.br, todos ficaram
sensibilizados, independentemente
de classe social, cor, sexo e idade.
Mas o que fazer para provar que
não há interesses políticos num movimento como esse? Isso, somente o
tempo mostrará. Interesses político-partidários não conseguem permanecer ocultos por mais de quatro anos.
A minha indignação -e, tenho certeza que também a de milhares de outras pessoas- é contra a inércia na
qual a sociedade se encontra. Em que
nem a morte de 200 pessoas -gente
como a gente, de carne e osso- sensibiliza mais. Mas começo a acreditar
naquele ditado que diz: "Para que ajudar se podemos atrapalhar?".
O que queremos é que o cidadão
participe. Assuma a sua parcela de
responsabilidade e, pelo menos, cobre seus representantes.
Sabemos que o país está sensibilizado neste momento. Talvez por isso
mesmo seja agora a melhor hora para
protestar, ainda que em silêncio, num
ato sem microfones, que não queremos mais ser vítimas do descaso ou da
omissão de quem quer que seja.
Este é um momento de despertar.
Essa é a razão do "Cansei". Criticar é
um direito dos cidadãos, que estão
convidados a sugerir como podemos
agir para não partidarizar o debate. E,
quem sabe, corrigir algum desvio no
rumo do que pode ser benéfico para o
todo, e não somente para esta ou
aquela parte.
No dia 17 deste mês, queremos nos
solidarizar. O único pedido é para que
as pessoas parem suas atividades por
um único minuto, às 13 horas. Não definimos ainda o que será feito depois.
Sabemos que a vida continua para os
que estão aqui e não pretendemos,
em nenhum momento, alterar o curso da história. Só queremos mostrar
-e para quem quiser ver- que grande parte da sociedade, de gente como
a gente, está indignada.
Percebemos que há um desencanto
geral na população. Tenho certeza de
que os brasileiros não agüentam mais
ouvir críticas sobre a violência crescente, a corrupção e a falta de recursos para ações básicas como saúde e
educação, apesar de o "impostômetro" mostrar que a cada dia o brasileiro paga mais impostos.
Continuo a afirmar que o "Cansei"
não é um movimento partidário, e
sim um movimento cívico.
A sociedade parece estar anestesiada e sem noção da sua importância.
Sabemos que esses sintomas, juntos
do cansaço e da fadiga generalizada,
podem, a qualquer momento, transformar-se em revolta.
Cada brasileiro tem que amar este
país. A sociedade precisa organizar-se
para fazer valer os seus direitos. Todos têm que entender, principalmente os ocupantes de cargos públicos,
que, antes de defender seus próprios
interesses, devem prevalecer os interesses da maioria.
Não temos que esperar mais um desastre para corrigir problemas que
vêm por décadas. Precisamos aproveitar o tempo e nos unir para cobrar
ações que solucionem o caos atual.
O que queremos deixar claro, de
uma vez por todas, é que o "Cansei"
tem o único objetivo de mostrar que
nós, brasileiros, gente de carne e osso,
ricos ou pobres, estamos descontentes, inconformados, tristes, indignados e cansados do que estamos vendo.
ALENCAR BURTI, 76, empresário, é presidente da Associação Comercial de São Paulo, da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo e da Confederação das Associações Comerciais do Brasil. É apoiador do
movimento "Cansei".
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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