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Editoriais
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Pressão cambial
Excessiva valorização do
real e o retorno de capitais
especulativos favorecem
intervenção mais agressiva
do Banco Central no câmbio
Novamente especula-se sobre a
possibilidade de uma ação agressiva do Banco Central no câmbio,
desta vez comprando dólares no
mercado de derivativos. Os sinais
típicos que antecedem esse tipo de
intervenção estão presentes no cenário econômico: forte entrada de
recursos externos de perfil especulativo e uma taxa de câmbio que
ameaça se aproximar do que seria
o limite de tolerância política do
governo, R$ 1,70 por dólar.
Nesse quadro, podem-se prever
para as próximas semanas tentativas do mercado de testar a firmeza
de convicções do governo. A situação é difícil para o Banco Central,
que já vem adquirindo dólares em
volumes superiores ao fluxo de
entrada no mercado à vista, sem
conseguir estancar a pressão sobre as cotações. A continuidade
dessa política pode esbarrar em
mais dificuldades, o que levaria a
autoridade monetária a atuar no
mercado de derivativos, como,
aliás, já deixou transparecer.
Não por acaso, o governo ameaça com novas medidas restritivas
e voltam à cena declarações oficiais de que as pressões no sentido
da valorização do real são passageiras e serão revertidas em algum
momento com o crescimento do
déficit em conta corrente. Chegou-se, portanto, ao paroxismo de contar com desequilíbrios mais acentuados na balança comercial e de
serviços para sanar o problema.
O déficit externo, de fato, está
crescendo. Atingiu US$ 5,2 bilhões em junho e acumula US$ 41
bilhões nos últimos 12 meses
(2,1% do PIB), podendo superar
US$ 50 bilhões até o fim do ano. E
o padrão de financiamento externo está mudando: tem havido persistente redução no ritmo de entrada de investimento externo direto (IED). Chegou-se em junho a
US$ 25,3 bilhões (1,32% do PIB), o
menor valor dos últimos anos.
Mas essa escalada não tem causado impacto no câmbio, pois a
contrapartida à menor entrada de
IED tem sido o aumento do fluxo
de capital de curto prazo (US$ 18
bilhões até agora em 2010) e do
endividamento externo das empresas. Ou seja, até o momento os
recursos de caráter mais especulativo e a emissão de dívidas superam a falta de IED no financiamento externo.
No mundo atual das finanças
globalizadas não é surpresa que
seja assim. O mercado de câmbio é
determinado pelos fluxos financeiros, que são um múltiplo das
transações do comércio exterior. E
como os mercados financeiros são
propensos a bolhas especulativas,
a taxa de câmbio pode permanecer distante dos ditos "fundamentos" por muito tempo.
O fato é que o Brasil continua
sendo o campeão mundial de juros a atrair capital de qualidade
duvidosa. É o último "peru com farofa" no mundo à disposição do
capital especulativo, para usar a
expressão do ex-ministro Delfim
Netto. Isso é ainda mais evidente
nesse momento em que que a
maior parte dos países desenvolvidos mantém suas taxas de juros
próximas de zero.
A intervenção no câmbio poderá minimiza o ritmo da valorização. Mas sozinha não irá eliminá-la. Não, pelo menos, enquanto
permanecerem as causas estruturais desses desequilíbrios, como a
ainda reduzida corrente de comércio exterior da economia e a insuficiente poupança interna do país.
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