São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2000


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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Grito dos Excluídos

Com o lema "Progresso e Vida -Pátria sem dívidas", vai se realizar no dia 7 de setembro o "Grito dos Excluídos", pelo sexto ano consecutivo. A prioridade está na palavra "vida" e, portanto, na proposta de um país novo, que seja a pátria com trabalho para todos, onde sejam promovidas a dignidade da pessoa, as exigências éticas nas decisões políticas e econômicas, a justiça na distribuição dos recursos e a prática da solidariedade.
Neste ano, o símbolo do grito apresenta um cartão vermelho, com a imagem do dólar anulado por dois traços. Significa a desaprovação à política econômica, que se submete às decisões de grupos internacionais, sacrificando a soberania do nosso país. Deseja, assim, lembrar que a economia deve estar a serviço da vida.
No "Grito dos Excluídos", há dois aspectos básicos. O primeiro é a denúncia das causas da exclusão social e, em especial, dos cortes às políticas sociais que deveriam promover os recursos para trabalho, saúde, educação, reforma agrária e habitação. O grito se dirige contra os males que atingem o povo, como o atual desemprego e as várias formas de corrupção.
O outro aspecto forte é a esperança. O grito não é apenas uma expressão de sofrimento e desagrado, nem se resume num protesto. Surge da confiança em Deus, da vontade de valorizar o dom da vida, de acreditar que ainda é possível construir uma pátria livre e justa.
Nas manifestações populares, percebe-se, com efeito, um aspecto de festa e de congraçamento de quem vislumbra no horizonte tempos diferentes marcados pela solidariedade fraterna que deve existir entre filhos de Deus.
O grito acontece neste ano no período em que se organiza o "Plebiscito Nacional", de 2 a 7 de setembro, sobre a "vida acima da dívida", isto é, a ampla consulta popular a respeito da realização da auditoria pública quanto aos empréstimos feitos, o reto uso dos recursos e a justiça dos juros e pagamentos.
Pois não há dúvida de que essa complexa questão da dívida pública, externa e interna requer, há muito tempo, avaliação justa e transparente, que faculte maior aplicação das verbas orçamentárias para as políticas sociais.
Um dos frutos do "Grito dos Excluídos" é contribuir para a conscientização da sociedade sobre situações que prejudicam a vida digna e sobre as iniciativas para superá-las de modo construtivo. Basta lembrar os passos dados nos últimos anos. A iniciativa começou em 1995 com o lema "A vida em primeiro lugar", em consonância com a Campanha da Fraternidade sobre os excluídos. Atingiu na época 170 cidades. Na sequência dos anos, a realização do grito, tendo sempre como objetivo a promoção da vida, voltou-se para o trabalho e a terra, a dignidade dos encarcerados, a educação, o problema da fome e, atualmente, para a questão complexa do pagamento da dívida pública e de suas consequências sociais.
Aumentou, também, a abrangência do grito, adquirindo dimensão latino-americana e continental. Neste ano, em 12 de outubro, em Nova York e em várias capitais, há de ecoar o grito por "trabalho, justiça e vida", com particular atenção aos imigrantes indocumentados.
No santuário da Padroeira do Brasil, em Aparecida (SP), reúnem-se os trabalhadores para a sua 13ª Romaria, lembrados de que o "Grito dos Excluídos", à luz da fé, é a prece confiante diante de Deus, pedindo que nos ajude a realizar a conversão pessoal e a solidariedade, sem as quais não haverá a tão desejada transformação da sociedade.


D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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