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SÉRGIO DÁVILA
Bush, o idiota?
"BUSH É IDIOTA?" Quem
pergunta é o letreiro no
pé da tela do canal pago
noticioso MSNBC, da mesma empresa que edita o jornal "The Washington Post" e a revista "Newsweek". No ar, âncora e experts discutem se ao 43º presidente norte-americano falta a capacidade intelectual que o cargo exige.
Uma recente reportagem de capa da revista "Rolling Stone" repete a inquietação, com mais cores:
uma caricatura de George W. Bush
sentado num banco escolar no canto de uma sala de aula com o típico
chapéu cônico e o título: "O pior
presidente da história dos EUA?".
A preocupação é bipartidária (o
âncora é um ex-congressista republicano; o autor do texto é um professor liberal de Princeton), e a reação a ela mobilizou ambos os lados
do espectro político norte-americano nesse verão do Hemisfério
Norte, que começa a terminar.
Karl Rove, dito "o cérebro de
Bush", percebeu a tempo o risco de
caricaturização histórica que o
chefe corria. Fez chegar à imprensa
que o livro de cabeceira do presidente em suas férias em seu rancho
no Texas foi "O Estrangeiro", de
Albert Camus (1913-1960). Sei.
(O fato de o título escolhido para
divulgar a faceta "intelectual" de
Bush ser a obra do filósofo francês
de origem argelina, em que o protagonista narra com frieza o funeral
da mãe, revela uma escorregadela
psicológica que deve ter deixado
vermelha a ex-primeira-dama Barbara e satisfeita a autora do livro
"The Family - The Real Story of the
Bush Dynasty", que defende que a
mãe e o filho presidente têm relação no mínimo distante.)
Aí, é claro, o verdadeiro George
W. Bush age como... bem, como
Bush, e estraga tudo. Numa de suas
mais recentes entrevistas coletivas, diz, com um rosto de jogador
de pôquer, que ninguém em sua administração nunca fez a ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda
("ninguém" exceto o próprio presidente, seu vice, Dick Cheney, o secretário Donald Rumsfeld, o ex-secretário Colin Powell...).
Nas últimas horas, a mesma tropa de choque, sem Powell, veio a
campo sugerir que quem é contra a
Guerra do Iraque é a favor do "fascismo islâmico". Não por acaso, o
tema antiguerra é a principal bandeira dos democratas nas eleições
de novembro, que podem dar o
controle do Congresso à oposição
pela primeira vez desde 1992.
Rumsfeld e cia. ainda fizeram
comparações entre os que menosprezavam os perigos do nazismo
antes da Segunda Guerra e os que
hoje são a favor da retirada das tropas de um país que está em plena
guerra civil por culpa da incompetência norte-americana.
O verão acaba logo, Bush tem
dois anos para esclarecer a questão
do início. A continuar nessa toada,
a resposta é a óbvia.
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em
Washington
sergiodavila@uol.com.br
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