São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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SÉRGIO DÁVILA

Bush, o idiota?

"BUSH É IDIOTA?" Quem pergunta é o letreiro no pé da tela do canal pago noticioso MSNBC, da mesma empresa que edita o jornal "The Washington Post" e a revista "Newsweek". No ar, âncora e experts discutem se ao 43º presidente norte-americano falta a capacidade intelectual que o cargo exige.
Uma recente reportagem de capa da revista "Rolling Stone" repete a inquietação, com mais cores: uma caricatura de George W. Bush sentado num banco escolar no canto de uma sala de aula com o típico chapéu cônico e o título: "O pior presidente da história dos EUA?".
A preocupação é bipartidária (o âncora é um ex-congressista republicano; o autor do texto é um professor liberal de Princeton), e a reação a ela mobilizou ambos os lados do espectro político norte-americano nesse verão do Hemisfério Norte, que começa a terminar.
Karl Rove, dito "o cérebro de Bush", percebeu a tempo o risco de caricaturização histórica que o chefe corria. Fez chegar à imprensa que o livro de cabeceira do presidente em suas férias em seu rancho no Texas foi "O Estrangeiro", de Albert Camus (1913-1960). Sei.
(O fato de o título escolhido para divulgar a faceta "intelectual" de Bush ser a obra do filósofo francês de origem argelina, em que o protagonista narra com frieza o funeral da mãe, revela uma escorregadela psicológica que deve ter deixado vermelha a ex-primeira-dama Barbara e satisfeita a autora do livro "The Family - The Real Story of the Bush Dynasty", que defende que a mãe e o filho presidente têm relação no mínimo distante.)
Aí, é claro, o verdadeiro George W. Bush age como... bem, como Bush, e estraga tudo. Numa de suas mais recentes entrevistas coletivas, diz, com um rosto de jogador de pôquer, que ninguém em sua administração nunca fez a ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda ("ninguém" exceto o próprio presidente, seu vice, Dick Cheney, o secretário Donald Rumsfeld, o ex-secretário Colin Powell...).
Nas últimas horas, a mesma tropa de choque, sem Powell, veio a campo sugerir que quem é contra a Guerra do Iraque é a favor do "fascismo islâmico". Não por acaso, o tema antiguerra é a principal bandeira dos democratas nas eleições de novembro, que podem dar o controle do Congresso à oposição pela primeira vez desde 1992.
Rumsfeld e cia. ainda fizeram comparações entre os que menosprezavam os perigos do nazismo antes da Segunda Guerra e os que hoje são a favor da retirada das tropas de um país que está em plena guerra civil por culpa da incompetência norte-americana. O verão acaba logo, Bush tem dois anos para esclarecer a questão do início. A continuar nessa toada, a resposta é a óbvia.


SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington
sergiodavila@uol.com.br


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