São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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Editoriais

Estratégia de defesa

DEPOIS DE um ano de elaboração no governo, começa a tomar forma o Plano Estratégico de Defesa Nacional. O projeto, a ser anunciado até o dia 7, contém grandes diretrizes, como o reaparelhamento, a reorganização da indústria bélica nacional, o reforço do patrulhamento da fronteira e alterações no serviço militar obrigatório.
Em seu esboço, o documento prevê o fomento à indústria local, além de absorção de plataformas tecnológicas importadas. Aqui começam as dúvidas. Já houve muita mudança de orientação no governo sobre com que países, afinal, o Brasil pretende firmar alianças estratégicas.
Além do programa de modernização das Forças Armadas, é necessário agregar um mínimo de previsibilidade aos dispêndios. Sem regularidade financeira, investimentos que requerem longo prazo de maturação e somas elevadas, como o Veículo Lançador de Satélites e o submarino de propulsão nuclear, dificilmente sairão do papel.
A parte mais criticável do projeto, no entanto, é a que trata da alteração no estatuto atual do serviço militar. A idéia defendida pelo ministro dos Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, de criar um serviço civil obrigatório é um princípio anacrônico de mobilização nacional.
Como o próprio ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou, o serviço está se tornando voluntário na prática. O Brasil tem o maior contingente militar na América do Sul, com cerca de 368 mil integrantes. A Argentina, segunda maior economia da região, tem força de apenas 76 mil. Não há necessidade, nos dias de hoje, de aumentar o contingente brasileiro, mas de profissionalizá-lo e equipá-lo.
O plano evitaria entrar em um terreno pantanoso se deixasse de lado a idéia de dar nova regulamentação ao emprego do Exército em áreas urbanas. Os investimentos nessa área deveriam recair sobre a Força Nacional de Segurança Pública.
Em seus principais diagnósticos, contudo, o Plano Estratégico de Defesa vai ao encontro de um necessário "aggiornamento" das Forças Armadas. Falta despojar-se de ideologias ultrapassadas para ganhar mais coerência, pragmatismo e coordenação.


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