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FERNANDO RODRIGUES
Marcha da insensatez
BRASÍLIA - É real a possibilidade
de o Senado aprovar hoje a chamada reforma eleitoral. O texto voltará
para a Câmara e será rapidamente
analisado pelos deputados. Vai valer já nas eleições de 2010.
Ruim ou inócuo quase do começo
ao fim, o aspecto mais nocivo do
projeto são as limitações ao livre
uso da internet durante o período
eleitoral do ano que vem. Num misto de ignorância e má-fé, os congressistas decidiram equiparar a
web à TV e ao rádio.
Para quem não chegou hoje de
Alfa Centauro, a anomalia é conhecida durante anos eleitorais. O
apresentador de telejornal ou de
um noticiário em rádio, num momento, começa a recitar os nomes e
agendas de todos candidatos, um a
um. Entram todos. O político nanico sem a menor relevância, o escroque, o "boca de aluguel" a serviço de
alguém. Não importa. Os programas jornalísticos em TV e rádio estão obrigados, por força da lei, a dar
espaço a esse trem fantasma que só
existe por causa dessa exigência.
Agora, com a nova lei prestes a ser
aprovada, a internet terá de se submeter a uma tutela idêntica. Portais, sites e blogs não poderão atrever-se a fazer entrevistas com os
principais candidatos. Mesmo sendo empresas privadas, e não concessões públicas, terão de ceder espaço equânime a todos.
Debates em vídeo na internet
também seguirão a mesma regra.
Todos os candidatos terão de ser
convidados. Se um não aceitar, nada feito. Se todos aceitarem, assiste-se a um encontro inútil.
Os gênios por trás desse monstrengo são Eduardo Azeredo
(PSDB-MG) e Marco Maciel
(DEM-PE). Mas Aloizio Mercadante (PT-SP) também esteve ontem
na reunião na qual tramou-se a aurora boreal do atraso.
De todas as estripulias na política
neste ano, essa é a pior. Condenará
o país para sempre a ter uma internet manietada em anos eleitorais.
frodriguesbsb@uol.com.br
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