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CLÓVIS ROSSI
E o PT tinha razão
SÃO PAULO - Se o governo Luiz Inácio Lula da Silva se mostrou plenamente confiável aos olhos do mercado, se fez tudo o que a ortodoxia
manda, se arquivou tudo o que dizia
no passado recente (eram "bravatas", como fez questão de deixar claro
o próprio presidente), então por que
diabos o investimento na economia
brasileira continua indigente?
Pior: foi, no segundo trimestre do
ano, o mais baixo desde igual período de 1993 (antes do Plano Real, portanto, e, por extensão, no período de
inflação desbocada, que é inimiga do
investimento, certo?)
De acordo com os dados do IBGE, o
investimento estacionou em 17,88%
do PIB. Para que o país cresça entre
4% e 5% ao ano, "é necessário que a
taxa de investimentos gire entre 25%
e 26% do PIB", calcula Carlos Cesar
Sobral, gerente da equipe das Contas
Financeiras Trimestrais do IBGE,
conforme o relato de Chico Santos
ontem nesta Folha.
Ou, em outras palavras, para que o
crescimento se aproxime do prometido pelo governo Lula (5% ao ano),
será preciso que o investimento aumente uns 50% doravante. Quem aí
aposta que haverá um aumento desse porte? Ou mesmo que haverá algum aumento, qualquer um?
Afinal, qual a lógica que levaria
empresas e indivíduos a investir em
uma economia que patina há anos,
sem que ao menos se insinue uma
política econômica capaz de mudar
o rumo e fornecer algum estímulo ao
crescimento?
A resposta, por irônico que pareça,
está nas análises que o PT fazia até
meados do ano passado, condenando a política econômica por favorecer o capital financeiro em detrimento do capital produtivo. O PT tinha
razão. Pena que faça agora o que
condenava antes.
A propósito: quem acha que são só
os mal chamados radicais que estão
insatisfeitos com o "new PT" que tome nota da saída de Eduardo Jorge
para o PV. Um dos cada vez mais raros políticos que ainda nos permitem
acreditar na política, sua saída, silenciosa como é de seu hábito, faz assim mesmo ensurdecedor ruído.
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