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Segundo turno
Mais quatro semanas de campanha presidencial dão margem a um debate franco e maduro entre Lula e Alckmin
DIANTE DA reincidência
do Partido dos Trabalhadores num desmando ético, quando
faltavam 15 dias para o primeiro
turno, o eleitor brasileiro decidiu
estender a disputa pelo Planalto
por mais quatro semanas. A uma
velocidade acachapante, esboroou-se a margem de cerca de 12
milhões de votos que, segundo o
Datafolha, Luiz Inácio Lula da
Silva mantinha sobre o conjunto
de seus adversários há duas semanas. Foi o suficiente para o
presidente, por diferença estreita, ver frustrada sua expectativa
de vitória no pleito de ontem.
As mais otimistas projeções de
Geraldo Alckmin, que enfrentará o petista em 29 de outubro, foram superadas pelo resultado de
ontem. O ex-governador não
apenas conseguiu avançar para a
votação decisiva, algo pouco provável há duas semanas, mas encerra o turno inicial em patamar
próximo ao de seu adversário.
O mapa da votação deste domingo radicaliza a sensação de
um país dividido. Dividido em
classes de renda e escolaridade;
dividido regionalmente; dividido
politicamente. É vermelha (cor
do PT) a mancha que vai de Minas ao Amazonas, passando pelo
Nordeste. É azul (dos tucanos) o
espectro que vai do Rio Grande
do Sul, passa por São Paulo e
abrange o Centro-Oeste.
Da mesma maneira, o eleitorado de menor renda apoiou francamente a reeleição do presidente da República; já as fatias com
maior rendimento e escolaridade apoiaram de modo maciço o
ex-governador paulista.
Do ponto de vista da análise
política, a questão crucial passa a
ser até onde vai o movimento
que retirou apoio de Lula e o
transferiu a Alckmin. Uma "fotografia" parecida com a correlação de forças que acaba de sair da
eleições foi revelada por pesquisas eleitorais no final do ano passado. Naquele momento, o acúmulo de escândalos na administração petista chegou a tirar de
Lula a condição de favorito à reeleição, mas o presidente se recuperou. Resta saber se demonstrará resistência parecida agora.
Do ponto de vista institucional
-sem embargo da legitimidade
de uma eventual vitória de Lula
ontem-, a deflagração do segundo turno traz vantagens. Há tempo para a elucidação total do chamado escândalo do dossiê, com a
identificação dos sacadores e da
origem do R$ 1,7 milhão usado
por integrantes da campanha petista na tentativa de comprar informações contra adversários.
Há tempo, oportunidade e interesse dos dois políticos que estão na disputa final para empreender um debate franco e
maduro sobre as prioridades de
gestão. Ambos precisam superar
as platitudes a que vêm se dedicando a título de exprimir seus
"programas de governo".
Há tempo para que as redes de
apoio político em torno de Lula e
de Alckmin se agreguem e se explicitem, facilitando a visualização dos blocos parlamentares na
gestão que se iniciará em janeiro.
Ao longo das próximas quatro
semanas, portanto, os mais de
125 milhões de brasileiros habilitados a votar terão a chance de
aperfeiçoar bastante a sua decisão a respeito de quem os representará na Presidência até 2010.
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