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FERNANDO DE BARROS E SILVA
País dividido
SÃO PAULO - Por batida que seja,
a imagem do tiro no pé é a mais
branda que ocorre para ilustrar o
que a campanha de Lula fez com o
candidato Lula -pondo em alto risco uma reeleição que era certa. O
presidente sobreviveu ao mensalão,
sobreviveu à derrocada de seus
principais auxiliares e parecia incólume às investidas da oposição até
meados da semana passada.
A maioria pobre do país mantinha-se firme na decisão de reelegê-lo. Não foi o suposto "golpismo" da
oposição, não foram tampouco a
"mídia antipetista" ou a "conspiração das elites" -quem derrubou
Lula na véspera da eleição foram
eles: os "bons companheiros".
O partido e o aparato petista no
poder entenderam os sucessivos
votos de confiança dados a Lula como carta branca às mesmas práticas que haviam jogado o governo na
rota da degradação. Por mais elástica que seja a tolerância popular, a
anistia a Lula chegou ao limite.
Geraldo Alckmin não é figura de
empolgar. O candidato que se fez
porta-voz do "Brasil decente" precisou depender de uma montanha
de dinheiro na campanha adversária para comover o eleitor de que
mereceria passar ao segundo turno.
Chegou lá pelas mãos (sujas) do PT.
Cercado de velhas raposas do
mandonismo conservador, o bom
moço da direita promete pôr ordem
no galinheiro. Lembra um pouco
aqueles personagens da obra rodrigueana, que abafam um poço de
perversões sob a superfície da moral castiça e dos bons costumes.
A candidatura Alckmin vem contemplar, mais do que uma demanda
ética, o moralismo tacanho de uma
classe média que mistura sua justa
indignação contra a corrupção com
o preconceito inexpugnável em relação ao operário que ascendeu ao
topo da República. O governo Lula
deu pretextos para o "liberou geral"
que os adversários incubavam.
Ilusão imaginar que a disputa
agora plebiscitária irá jogar luz sobre problemas e soluções para o
país. A divisão dicotômica entre o
bem e o mal será radicalizada. A
pauta é a do "pega ladrão!" contra
"golpistas não passarão!".
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