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JOSÉ SARNEY
Futebol quase sempre
JÁ QUE O assunto é a Copa e a escolha do Brasil para realizá-la
em 2014, vou entrar na onda. O
anúncio da decisão da Fifa teve
ares de feito nacional, com direito à
presença do presidente da República, ministros, governadores dos
maiores Estados da federação,
além de uma comitiva menos votada de parlamentares, cartolas e
sem-ingresso. Romário substituiu
Pelé e deixou um enigma no ar: se
vai ser ou não candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro, deixando a
bola pelo bolo eleitoral.
Quando vi que tudo era esperança, fiquei meditando como o futebol é uma paixão que até antecipa o
tempo. Lula, em 2014, já não será
mais presidente, mas poderá ser
candidato, pois será ano de eleição,
e eu já terei 84 anos e espero estar
torcendo por jogadores que nós
nem sabemos quem serão, os
atuais já estarão catalogados em
velhos e quando muito serão comentaristas de esporte. Mas teremos estádios novos, com novas tecnologias de informação, com anúncios eletrônicos nas laterais e gramados à prova de chuva. Pelé deverá estar casando uma de suas gêmeas, e Romário já não brigará
com ele. O celular deverá ser do tamanho da unha e obedecerá a um
comando de voz, e o presidente
Chávez fará um desfile naval no
Rio de Janeiro, apresentando o seu
porta-aviões Simon Bolívar, com
direito a visitação e show aéreo.
Quem será o presidente? Não sei,
na onda que vai, poderá até ser uma
mulher. Se não sabemos quem estará governando o Brasil, sabemos
quem será o presidente da CBF: o
sortudo Ricardo Teixeira, pois tomou a vacina de colocar um dispositivo de que ela terá como presidente quem fez escolher o Brasil
para sede da Copa.
Mas, na minha vida, jamais esquecerei uma Copa: a de 1950. Era
a primeira vez que vinha ao Rio. O
fatídico 16 de julho. Eu vinha para o
Congresso da UNE, como delegado
do Maranhão. Saí às 5h de São Luís,
num Curtiss Comander do Lloyd
Aéreo, um avião cargueiro da Segunda Guerra, que era como a Gol
de hoje, passagem barata e tratamento zero. Os bancos, uma rede
lateral. No meio, carga. Pousamos
em Carolina, Porto Nacional, Formosa -onde embarcaram sacos de
charque do Hugo Borghi, dono da
empresa-, depois Belo Horizonte
e chegada ao Rio. O avião jogou o
tempo todo, e eu era só enjôo, com
direito a esvaziar o estômago. Mais
morto do que vivo, ouvi o comandante dizer: "Estamos sobrevoando o Maracanã, vejam os que estão
à direta": vi e não vi. Estava muito
mareado: eram 16 horas e 50 minutos. O comandante anuncia: "O
Uruguai acaba de marcar um gol. O
Brasil perdeu a Copa".
No Santos Dumont, saltei, saltamos todos os passageiros, sem querer saber de futebol e doidos para ir
ao banheiro.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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