São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2008

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Metas para o clima

Brasil fixa compromissos contra o aquecimento global e busca assumir posição de liderança em conferência mundial

A CONFERÊNCIA sobre mudança climática iniciada ontem em Poznan (Polônia) reúne cerca de 180 nações em torno da quase impossível tarefa de alinhavar um acordo internacional para substituir o Protocolo de Kyoto após 2012, quando expira.
Decisões, se vierem, acontecerão só na fase ministerial da reunião, dias 11 e 12. Permanece o contexto paralisante da disputa Norte-Sul que marca a negociação internacional do clima desde 1992, ora agravada pela crise financeira que assola o mundo. Mas já surgem indicações de que o impasse pode começar a ser rompido sob a liderança de poucos países -entre eles o Brasil.
Até o presente o processo estava empacado pela recusa dos EUA de ratificar Kyoto e, portanto, de comprometer-se com metas de redução de gases do efeito estufa sem que países em desenvolvimento -China à frente- fizessem o mesmo. Estes exigiam que todo o ônus recaísse sobre os países ricos, inclusive o de financiar e transferir tecnologias limpas aos mais pobres. Quanto a assumir compromissos de redução, isso estava fora de questão.
Assim como no caso da Rodada Doha sobre liberalização do comércio, o Brasil agora se afasta um pouco da rota rígida preconizada por parceiros como Índia e China. No plano nacional de mudança climática apresentado ontem pelo presidente Lula foram afinal incluídas metas quantitativas para redução de emissões, coisa que o país antes descartava.
O compromisso anunciado é cortar em 40% os índices de desmatamento entre 2006 e 2010, mantendo-o abaixo de 11.700 km2 ao ano. Para efeito de comparação, a média anual de desmate entre 1996 e 2005 foi de 19.500 km2. Como derrubadas de florestas respondem pela maior parte das emissões brasileiras, na prática isso equivale a assumir uma meta verificável.
"A gente já pode dizer, alto e bom som, que apresentamos (...) um [plano] melhor do que a China e do que a Índia", discursou ontem o presidente Lula. Parece manifesta a intenção de ocupar uma posição de liderança nas negociações de Poznan, que preparam o terreno para a derradeira conferência do clima, em Copenhague, dentro de um ano.
O Brasil se perfila, assim, na companhia do Reino Unido, que também atua de modo audacioso para reduzir suas emissões e destacar-se na reunião da Polônia. Os britânicos divulgaram ontem a proposta de um pioneiro orçamento nacional de carbono para cumprir o objetivo de cortar 80% dos gases-estufa até o ano 2050. A novidade está no plano de reduzir algo entre 34% e 42% das emissões já em 2020.
Como os EUA de Barack Obama se encaminham para metas similares, pode-se concluir que as chances de Poznan e Copenhague redundarem em fracasso diminuíram um pouco.


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