São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2010

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KENNETH MAXWELL

Gato e rato

Até 10 de novembro, a imprensa e os políticos britânicos estavam se congratulando por não serem franceses. Pode parecer estranho aos de fora, mas os velhos preconceitos vão fundo.
A imprensa britânica tratou com gravidade as greves francesas que levaram milhares de trabalhadores às ruas contra a elevação da idade mínima de aposentadoria. A despeito das draconianas medidas de austeridade que acabavam de ser impostas pelo novo governo de coalizão em Londres, os jornalistas britânicos se vangloriavam da diferença que percebiam entre a discreta aceitação britânica dessas medidas e a ruidosa oposição francesa diante do que, aos olhos britânicos, pareciam ser medidas bastante razoáveis.
A imprensa e os políticos britânicos parecem não ter percebido um novo elemento muito importante -e mais perto de casa. Os protestos também começavam a ganhar força no Reino Unido.
Quando 50 mil pessoas muito zangadas se reuniram no centro de Londres, em manifestação convocada pela união nacional dos estudantes, os sabichões e políticos foram apanhados de surpresa.
Além disso, centenas de manifestantes se afastaram do grupo principal e se instalaram na sede do Partido Conservador na Millbank Tower, Westminster. Como seu número era muito superior ao de policiais, eles conseguiram ocupar o telhado do edifício e quebraram vidros no saguão.
Foi o pior episódio de violência de rua desde os anos 90.
O que causou tamanha ira nos estudantes e sustenta protestos continuados de estudantes em todo o país é a proposta do governo conservador para um aumento nas mensalidades das universidades inglesas em até 9 mil anuais, enquanto as verbas do ensino superior terão corte de 40%.
Os estudantes consideram que a proposta represente uma traição da parte dos liberais democratas, que durante sua campanha prometeram oposição a aumentos nas mensalidades.
Estão especialmente zangados com Nick Clegg, o líder liberal democrata que agora ocupa o posto de primeiro-ministro assistente, e com Vince Cable, liberal democrata que apresentou o projeto ao Parlamento e serve como secretário de Negócios no governo de coalizão, respondendo pela gestão das universidades.
Nesta semana, enquanto os estudantes brincam de gato e rato com a polícia nas ruas de Londres, os liberais democratas do Parlamento enfrentam um dilema que não levaram em conta ao aderir, em maio, à coalizão com os conservadores que conduziu David Cameron à chefia do governo.
No dia 9 de dezembro, o partido terá de votar essas propostas. Não é uma questão que poderá ser resolvida de modo fácil ou indolor.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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