São Paulo, Segunda-feira, 03 de Janeiro de 2000


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Desejos para 2000


Que se apressem várias desestatizações, especialmente na área de energia


HORÁCIO LAFER PIVA

"Ao montar a sua agenda, lembrem-se: estamos em tempos de Internet, em que três meses valem um ano." Essa advertência, feita com categórica simplicidade por um jovem "nerd" numa reunião promovida, dias atrás, pela Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp/Ciesp, ressoa ainda nas paredes de granito negro (sempre lembradas por nossos críticos) da sede da avenida Paulista.
Diretores das entidades industriais e jovens e compenetrados engenheiros e empreendedores da tecnologia da informação estão vendo como juntar esforços nesse universo em expansão chamado "indústria da Internet". Essa colaboração, uma das metas importantes no futuro de nossa entidade, prosseguirá e se aprofundará em 2000.
A Fiesp/Ciesp sabe que a tecnologia da informação ajudará a indústria brasileira a obter novos saltos de produtividade nos próximos anos e aposta na maior aproximação entre as inteligências da universidade (os "nerds") e os micro, pequenos e médios empresários que precisam encontrar novos horizontes. E precisam melhorar a sua competitividade em termos mundiais.
Os tempos da Internet são dramaticamente curtos, como salientou o jovem engenheiro. E essa observação calou fundo na Fiesp/Ciesp, porque a indústria tem consciência de que poderá acelerar os seus próprios tempos, mas nunca terá sucesso em apressar o ritmo das decisões da burocracia estatal que domina a economia do país.
Vícios burocráticos, lentidão exasperante, omissão sistemática -inútil enumerar as mazelas brasilienses de origem talvez histórica e já muito conhecidas.
Daí colocarmos em primeiro lugar, na nossa curta lista de desejos para 2000, um pedido urgente por mais ampla liberdade econômica. O Congresso poderia limitar os excessos de intervenção do governo na vida das empresas e empurrar mais ainda o Estado para fora da esfera econômica, forçando-o a atuar prioritariamente nas áreas sociais. Maior liberdade para o empreendedor privado injetará maior dinamismo na economia e permitirá que o país aproveite o impulso da Internet.
Entre as maneiras rápidas de afastar o Estado da economia está a privatização. Está aí o segundo item da nossa curta lista de desejos para 2000. Que se apressem várias desestatizações, especialmente na área de energia, antes que a retomada geral da economia incorpore em nossa rotina os "brownouts" urbanos dos anos 50 e acabe impedindo o crescimento da indústria.
Há outros tópicos capitais na lista de 2000. Mas trata-se de questões que vêm se prolongando e se espichando, sem conclusão à vista, ao longo dos governos desta nossa década desperdiçada: "custo Brasil" (de tanto debatido em vão, quase já esquecido), reforma tributária (por que não declarar logo que o governo não a quer, poupando tempo e fôlego a todos?), reforma da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) -complicado demais reescrever um decreto de Getúlio Vargas...
Difícil acreditar, nesta altura, que essa macroeconomia encontre solução em 2000. A Fiesp/Ciesp concentra as suas esperanças para o ano que vem, então, na microeconomia e na vitalidade do empreendedor privado.
Antes de tudo, que continue baixando a taxa de juros e que possam agir com amplitude de ação os homens do Planalto, mais comprometidos com o realismo do dia-a-dia, a começar pelo presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Em seguida, que se promulgue de uma vez a nova lei da informática (cujo andamento ficou atrasado nas mãos do governo), evitando que a falta de regras claras esfrie a velocidade de entrada no Brasil da tecnologia da informação, essa preciosa ferramenta para o crescimento sustentado. E antes que o nosso "nerd", como tantos outros empreendedores de tantos outros setores, desconsolado, saia do país.


Horácio Lafer Piva, 42, industrial, é presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/Ciesp) e do Conselho Deliberativo do Sebrae-SP.




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