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Corrosão regional
Ao interromper bonança histórica na América Latina, crise ameaça sustar, também, redução nos índices de pobreza
A
CRISE está interrompendo um dos melhores momentos econômicos da história recente da América Latina. Desde
2004, a região registra taxa de
crescimento médio de 5% ao
ano. Nesse ambiente favorável,
os países acumularam superávits
em suas transações externas e
diminuíram sua vulnerabilidade
fiscal doméstica.
Durante a bonança, as nações
do subcontinente elevaram seu
volume de reservas internacionais a US$ 515,5 bilhões, segundo o FMI. Esse colchão de dólares ajuda a amortecer o impacto
da crise oriunda dos países desenvolvidos, mas não evita a corrosão paulatina da renda obtida
com as exportações.
A queda acentuada no preço
dos produtos básicos (commodities), que dominam a pauta de
exportações de todos os países
da região, já reduz o dinamismo.
Os superávits externos dão lugar
ao déficit, que deve atingir 2,5%
do PIB latino-americano em
2009. Mais déficit significa mais
dívida externa.
A rolagem desses débitos, seja
por governos, seja por empresas,
fica mais difícil com a fuga dos
investidores internacionais. Estrangulado pela perda de receitas oriundas do petróleo e pela
falta de crédito, o governo do
Equador, na linguagem populista de seu presidente, anunciou
um calote em seus bônus globais.
Por seu turno, a desvalorização
das moedas locais diante do dólar, se favorece a competitividade das exportações, é um obstáculo para o controle da inflação.
Vários países devem enfrentar,
ainda, queda na remessa de divisas feita por migrantes radicados
no mundo rico. O impacto desse
fator será maior na América
Central e no Caribe, mas também vai ser sentido no México e
na Bolívia. Os recursos das remessas constituem uma das
principais fontes para a diminuição da desigualdade na região.
O resfriamento da atividade
econômica diminui, quando não
anula, a capacidade de alguns
países de implementar políticas
para contrabalançar os impactos
da crise.
Segundo a Cepal (agência das
Nações Unidas para a América
Latina), a redução no ritmo de
crescimento, somada às dificuldades de implementar políticas
antirrecessivas e à deterioração
nas contas externas, deverá provocar aumento na taxa de desemprego e na informalidade. A
taxa média de desemprego, que
foi de 7,5% no passado, vai subir
para até 8,1%, calcula a entidade
da ONU.
Essa múltipla corrosão de variáveis econômicas na América
Latina dificilmente deixará de
prejudicar um dos principais
avanços obtidos nos anos recentes. O índice de pobreza no subcontinente, apurado pela Cepal,
baixou de 44% da população, em
2002, para 33%. Com a crise, fica
vulnerável a manutenção de programas sociais que atendem aos
mais necessitados.
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