São Paulo, sábado, 03 de janeiro de 2009

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Corrosão regional

Ao interromper bonança histórica na América Latina, crise ameaça sustar, também, redução nos índices de pobreza

A CRISE está interrompendo um dos melhores momentos econômicos da história recente da América Latina. Desde 2004, a região registra taxa de crescimento médio de 5% ao ano. Nesse ambiente favorável, os países acumularam superávits em suas transações externas e diminuíram sua vulnerabilidade fiscal doméstica.
Durante a bonança, as nações do subcontinente elevaram seu volume de reservas internacionais a US$ 515,5 bilhões, segundo o FMI. Esse colchão de dólares ajuda a amortecer o impacto da crise oriunda dos países desenvolvidos, mas não evita a corrosão paulatina da renda obtida com as exportações.
A queda acentuada no preço dos produtos básicos (commodities), que dominam a pauta de exportações de todos os países da região, já reduz o dinamismo. Os superávits externos dão lugar ao déficit, que deve atingir 2,5% do PIB latino-americano em 2009. Mais déficit significa mais dívida externa.
A rolagem desses débitos, seja por governos, seja por empresas, fica mais difícil com a fuga dos investidores internacionais. Estrangulado pela perda de receitas oriundas do petróleo e pela falta de crédito, o governo do Equador, na linguagem populista de seu presidente, anunciou um calote em seus bônus globais.
Por seu turno, a desvalorização das moedas locais diante do dólar, se favorece a competitividade das exportações, é um obstáculo para o controle da inflação.
Vários países devem enfrentar, ainda, queda na remessa de divisas feita por migrantes radicados no mundo rico. O impacto desse fator será maior na América Central e no Caribe, mas também vai ser sentido no México e na Bolívia. Os recursos das remessas constituem uma das principais fontes para a diminuição da desigualdade na região.
O resfriamento da atividade econômica diminui, quando não anula, a capacidade de alguns países de implementar políticas para contrabalançar os impactos da crise.
Segundo a Cepal (agência das Nações Unidas para a América Latina), a redução no ritmo de crescimento, somada às dificuldades de implementar políticas antirrecessivas e à deterioração nas contas externas, deverá provocar aumento na taxa de desemprego e na informalidade. A taxa média de desemprego, que foi de 7,5% no passado, vai subir para até 8,1%, calcula a entidade da ONU.
Essa múltipla corrosão de variáveis econômicas na América Latina dificilmente deixará de prejudicar um dos principais avanços obtidos nos anos recentes. O índice de pobreza no subcontinente, apurado pela Cepal, baixou de 44% da população, em 2002, para 33%. Com a crise, fica vulnerável a manutenção de programas sociais que atendem aos mais necessitados.


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